terça-feira, 19 de outubro de 2010

CARTA DO PAPA BENTO XVI AOS SEMINARISTAS

Queridos Seminaristas,

Em Dezembro de 1944, quando fui chamado para o serviço militar, o comandante de companhia perguntou a cada um de nós a profissão que sonhava ter no futuro. Respondi que queria tornar-me sacerdote católico. O subtenente replicou: Nesse caso, convém-lhe procurar outra coisa qualquer; na nova Alemanha, já não há necessidade de padres. Eu sabia que esta «nova Alemanha» estava já no fim e que, depois das enormes devastações causadas por aquela loucura no país, mais do que nunca haveria necessidade de sacerdotes. Hoje, a situação é completamente diversa; porém de vários modos, mesmo em nossos dias, muitos pensam que o sacerdócio católico não seja uma «profissão» do futuro, antes pertenceria já ao passado. Contrariando tais objecções e opiniões, vós, queridos amigos, decidistes-vos a entrar no Seminário, encaminhando-vos assim para o ministério sacerdotal na Igreja Católica. E fizestes bem, porque os homens sempre terão necessidade de Deus – mesmo na época do predomínio da técnica no mundo e da globalização –, do Deus que Se mostrou a nós em Jesus Cristo e nos reúne na Igreja universal, para aprender, com Ele e por meio d’Ele, a verdadeira vida e manter presentes e tornar eficazes os critérios da verdadeira humanidade. Sempre que o homem deixa de ter a noção de Deus, a vida torna-se vazia; tudo é insuficiente. Depois o homem busca refúgio na alienação ou na violência, ameaça esta que recai cada vez mais sobre a própria juventude. Deus vive; criou cada um de nós e, por conseguinte, conhece a todos. É tão grande que tem tempo para as nossas coisas mais insignificantes: «Até os cabelos da vossa cabeça estão contados». Deus vive, e precisa de homens que vivam para Ele e O levem aos outros. Sim, tem sentido tornar-se sacerdote: o mundo tem necessidade de sacerdotes, de pastores hoje, amanhã e sempre enquanto existir.
O Seminário é uma comunidade que caminha para o serviço sacerdotal. Nestas palavras, disse já algo de muito importante: uma pessoa não se torna sacerdote, sozinha. É necessária a «comunidade dos discípulos», o conjunto daqueles que querem servir a Igreja de todos. Com esta carta, quero evidenciar – olhando retrospectivamente também para o meu tempo de Seminário – alguns elementos importantes para o vosso caminho a fazer nestes anos.

1. Quem quer tornar-se sacerdote, deve ser sobretudo um «homem de Deus», como o apresenta São Paulo (1 Tm 6, 11). Para nós, Deus não é uma hipótese remota, não é um desconhecido que se retirou depois do «big-bang». Deus mostrou-Se em Jesus Cristo. No rosto de Jesus Cristo, vemos o rosto de Deus. Nas suas palavras, ouvimos o próprio Deus a falar connosco. Por isso, o elemento mais importante no caminho para o sacerdócio e ao longo de toda a vida sacerdotal é a relação pessoal com Deus em Jesus Cristo. O sacerdote não é o administrador de uma associação qualquer, cujo número de membros se procura manter e aumentar. É o mensageiro de Deus no meio dos homens; quer conduzir a Deus, e assim fazer crescer também a verdadeira comunhão dos homens entre si. Por isso, queridos amigos, é muito importante aprenderdes a viver em permanente contacto com Deus. Quando o Senhor fala de «orar sempre», naturalmente não pede para estarmos continuamente a rezar por palavras, mas para conservarmos sempre o contacto interior com Deus. Exercitar-se neste contacto é o sentido da nossa oração. Por isso, é importante que o dia comece e acabe com a oração; que escutemos Deus na leitura da Sagrada Escritura; que Lhe digamos os nossos desejos e as nossas esperanças, as nossas alegrias e sofrimentos, os nossos erros e o nosso agradecimento por cada coisa bela e boa, e que deste modo sempre O tenhamos diante dos nossos olhos como ponto de referência da nossa vida. Assim tornamo-nos sensíveis aos nossos erros e aprendemos a trabalhar para nos melhorarmos; mas tornamo-nos sensíveis também a tudo o que de belo e bom recebemos habitualmente cada dia, e assim cresce a gratidão. E, com a gratidão, cresce a alegria pelo facto de que Deus está perto de nós e podemos servi-Lo.

2. Para nós, Deus não é só uma palavra. Nos sacramentos, dá-Se pessoalmente a nós, através de elementos corporais. O centro da nossa relação com Deus e da configuração da nossa vida é a Eucaristia; celebrá-la com íntima participação e assim encontrar Cristo em pessoa deve ser o centro de todas as nossas jornadas. Para além do mais, São Cipriano interpretou a súplica do Evangelho «o pão nosso de cada dia nos dai hoje», dizendo que o pão «nosso», que, como cristãos, podemos receber na Igreja, é precisamente Jesus eucarístico. Por conseguinte, na referida súplica do Pai Nosso, pedimos que Ele nos conceda cada dia este pão «nosso»; que o mesmo seja sempre o alimento da nossa vida, que Cristo ressuscitado, que Se nos dá na Eucaristia, plasme verdadeiramente toda a nossa vida com o esplendor do seu amor divino. Para uma recta celebração eucarística, é necessário aprendermos também a conhecer, compreender e amar a liturgia da Igreja na sua forma concreta. Na liturgia, rezamos com os fiéis de todos os séculos; passado, presente e futuro encontram-se num único grande coro de oração. A partir do meu próprio caminho, posso afirmar que é entusiasmante aprender a compreender pouco a pouco como tudo isto foi crescendo, quanta experiência de fé há na estrutura da liturgia da Missa, quantas gerações a formaram rezando.

3. Importante é também o sacramento da Penitência. Ensina a olhar-me do ponto de vista de Deus e obriga-me a ser honesto comigo mesmo; leva-me à humildade. Uma vez o Cura d’Ars disse: Pensais que não tem sentido obter a absolvição hoje, sabendo entretanto que amanhã fareis de novo os mesmos pecados. Mas – assim disse ele – o próprio Deus neste momento esquece os vossos pecados de amanhã, para vos dar a sua graça hoje. Embora tenhamos de lutar continuamente contra os mesmos erros, é importante opor-se ao embrutecimento da alma, à indiferença que se resigna com o facto de sermos feitos assim. Na grata certeza de que Deus me perdoa sempre de novo, é importante continuar a caminhar, sem cair em escrúpulos mas também sem cair na indiferença, que já não me faria lutar pela santidade e o aperfeiçoamento. E, deixando-me perdoar, aprendo também a perdoar aos outros; reconhecendo a minha miséria, também me torno mais tolerante e compreensivo com as fraquezas do próximo.

4. Mantende em vós também a sensibilidade pela piedade popular, que, apesar de diversa em todas as culturas, é sempre também muito semelhante, porque, no fim de contas, o coração do homem é o mesmo. É certo que a piedade popular tende para a irracionalidade e, às vezes, talvez mesmo para a exterioridade. No entanto, excluí-la, é completamente errado. Através dela, a fé entrou no coração dos homens, tornou-se parte dos seus sentimentos, dos seus costumes, do seu sentir e viver comum. Por isso a piedade popular é um grande património da Igreja. A fé fez-se carne e sangue. Seguramente a piedade popular deve ser sempre purificada, referida ao centro, mas merece a nossa estima; de modo plenamente real, ela faz de nós mesmos «Povo de Deus».

5. O tempo no Seminário é também e sobretudo tempo de estudo. A fé cristã possui uma dimensão racional e intelectual, que lhe é essencial. Sem tal dimensão, a fé deixaria de ser ela mesma. Paulo fala de uma «norma da doutrina», à qual fomos entregues no Baptismo (Rm 6, 17). Todos vós conheceis a frase de São Pedro, considerada pelos teólogos medievais como a justificação para uma teologia elaborada racional e cientificamente: «Sempre prontos a responder (…) a todo aquele que vos perguntar “a razão” (logos) da vossa esperança» (1 Ped 3, 15). Adquirir a capacidade para dar tais respostas é uma das principais funções dos anos de Seminário. Tudo o que vos peço insistentemente é isto: Estudai com empenho! Fazei render os anos do estudo! Não vos arrependereis. É certo que muitas vezes as matérias de estudo parecem muito distantes da prática da vida cristã e do serviço pastoral. Mas é completamente errado pôr-se imediatamente e sempre a pergunta pragmática: Poderá isto servir-me no futuro? Terá utilidade prática, pastoral? É que não se trata apenas de aprender as coisas evidentemente úteis, mas de conhecer e compreender a estrutura interna da fé na sua totalidade, de modo que a mesma se torne resposta às questões dos homens, os quais, do ponto de vista exterior, mudam de geração em geração e todavia, no fundo, permanecem os mesmos. Por isso, é importante ultrapassar as questões volúveis do momento para se compreender as questões verdadeiras e próprias e, deste modo, perceber também as respostas como verdadeiras respostas. É importante conhecer a fundo e integralmente a Sagrada Escritura, na sua unidade de Antigo e Novo Testamento: a formação dos textos, a sua peculiaridade literária, a gradual composição dos mesmos até se formar o cânon dos livros sagrados, a unidade dinâmica interior que não se nota à superfície, mas é a única que dá a todos e cada um dos textos o seu pleno significado. É importante conhecer os Padres e os grandes Concílios, onde a Igreja assimilou, reflectindo e acreditando, as afirmações essenciais da Escritura. E poderia continuar assim: aquilo que designamos por dogmática é a compreensão dos diversos conteúdos da fé na sua unidade, mais ainda, na sua derradeira simplicidade, pois cada um dos detalhes, no fim de contas, é apenas explanação da fé no único Deus, que Se manifestou e continua a manifestar-Se a nós. Que é importante conhecer as questões essenciais da teologia moral e da doutrina social católica, não será preciso que vo-lo diga expressamente. Quão importante seja hoje a teologia ecuménica, conhecer as várias comunidade cristãs, é evidente; e o mesmo se diga da necessidade duma orientação fundamental sobre as grandes religiões e, não menos importante, sobre a filosofia: a compreensão daquele indagar e questionar humano ao qual a fé quer dar resposta. Mas aprendei também a compreender e – ouso dizer – a amar o direito canónico na sua necessidade intrínseca e nas formas da sua aplicação prática: uma sociedade sem direito seria uma sociedade desprovida de direitos. O direito é condição do amor. Agora não quero continuar o elenco, mas dizer-vos apenas e uma vez mais: Amai o estudo da teologia e segui-o com diligente sensibilidade para ancorardes a teologia à comunidade viva da Igreja, a qual, com a sua autoridade, não é um pólo oposto à ciência teológica, mas o seu pressuposto. Sem a Igreja que crê, a teologia deixa de ser ela própria e torna-se um conjunto de disciplinas diversas sem unidade interior.

6. Os anos no Seminário devem ser também um tempo de maturação humana. Para o sacerdote, que terá de acompanhar os outros ao longo do caminho da vida e até às portas da morte, é importante que ele mesmo tenha posto em justo equilíbrio coração e intelecto, razão e sentimento, corpo e alma, e que seja humanamente «íntegro». Por isso, a tradição cristã sempre associou às «virtudes teologais» as «virtudes cardeais», derivadas da experiência humana e da filosofia, e também em geral a sã tradição ética da humanidade. Di-lo, de maneira muito clara, Paulo aos Filipenses: «Quanto ao resto, irmãos, tudo o que é verdadeiro, nobre e justo, tudo o que é puro, amável e de boa reputação, tudo o que é virtude e digno de louvor, isto deveis ter no pensamento» (4, 8). Faz parte deste contexto também a integração da sexualidade no conjunto da personalidade. A sexualidade é um dom do Criador, mas também uma função que tem a ver com o desenvolvimento do próprio ser humano. Quando não é integrada na pessoa, a sexualidade torna-se banal e ao mesmo tempo destrutiva. Vemos isto, hoje, em muitos exemplos da nossa sociedade. Recentemente, tivemos de constatar com grande mágoa que sacerdotes desfiguraram o seu ministério, abusando sexualmente de crianças e adolescentes. Em vez de levar as pessoas a uma humanidade madura e servir-lhes de exemplo, com os seus abusos provocaram devastações, pelas quais sentimos profunda pena e desgosto. Por causa de tudo isto, pode ter-se levantado em muitos, e talvez mesmo em vós próprios, esta questão: se é bom fazer-se sacerdote, se o caminho do celibato é sensato como vida humana. Mas o abuso, que há que reprovar profundamente, não pode desacreditar a missão sacerdotal, que permanece grande e pura. Graças a Deus, todos conhecemos sacerdotes convincentes, plasmados pela sua fé, que testemunham que, neste estado e precisamente na vida celibatária, é possível chegar a uma humanidade autêntica, pura e madura. Entretanto o sucedido deve tornar-nos mais vigilantes e solícitos, levando precisamente a interrogarmo-nos cuidadosamente a nós mesmos diante de Deus ao longo do caminho rumo ao sacerdócio, para compreender se este constitui a sua vontade para mim. É função dos padres confessores e dos vossos superiores acompanhar-vos e ajudar-vos neste percurso de discernimento. É um elemento essencial do vosso caminho praticar as virtudes humanas fundamentais, mantendo o olhar fixo em Deus que Se manifestou em Cristo, e deixar-se incessantemente purificar por Ele.

7. Hoje os princípios da vocação sacerdotal são mais variados e distintos do que nos anos passados. Muitas vezes a decisão para o sacerdócio desponta nas experiências de uma profissão secular já assumida. Frequentemente cresce nas comunidades, especialmente nos movimentos, que favorecem um encontro comunitário com Cristo e a sua Igreja, uma experiência espiritual e a alegria no serviço da fé. A decisão amadurece também em encontros muito pessoais com a grandeza e a miséria do ser humano. Deste modo os candidatos ao sacerdócio vivem muitas vezes em continentes espirituais completamente diversos; poderá ser difícil reconhecer os elementos comuns do futuro mandato e do seu itinerário espiritual. Por isso mesmo, o Seminário é importante como comunidade em caminho que está acima das várias formas de espiritualidade. Os movimentos são uma realidade magnífica; sabeis quanto os aprecio e amo como dom do Espírito Santo à Igreja. Mas devem ser avaliados segundo o modo como todos se abrem à realidade católica comum, à vida da única e comum Igreja de Cristo que permanece uma só em toda a sua variedade. O Seminário é o período em que aprendeis um com o outro e um do outro. Na convivência, por vezes talvez difícil, deveis aprender a generosidade e a tolerância não só suportando-vos mutuamente, mas também enriquecendo-vos um ao outro, de modo que cada um possa contribuir com os seus dotes peculiares para o conjunto, enquanto todos servem a mesma Igreja, o mesmo Senhor. Esta escola da tolerância, antes do aceitar-se e compreender-se na unidade do Corpo de Cristo, faz parte dos elementos importantes dos anos de Seminário.
Queridos seminaristas! Com estas linhas, quis mostrar-vos quanto penso em vós precisamente nestes tempos difíceis e quanto estou unido convosco na oração. Rezai também por mim, para que possa desempenhar bem o meu serviço, enquanto o Senhor quiser.

Confio o vosso caminho de preparação para o sacerdócio à protecção materna de Maria Santíssima, cuja casa foi escola de bem e de graça. A todos vos abençoe Deus omnipotente Pai, Filho e Espírito Santo.

Vaticano, 18 de Outubro – Festa de São Lucas, Evangelista – do ano 2010.

Vosso no Senhor
BENEDICTUS PP XVI

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

As categorias das igrejas “sui iuris"

Para conhecer melhor as igrejas orientais
Por Hani Bakhoum Kiroulos

Sínodo dos Bispos para a Terra Santa
Roma, quinta-feira, 7 de outubro de 2010


O Código dos Cânones das Igrejas Orientais estabelece que as categorias das Igrejas sui iuris são quatro: a primeira é a das Igrejas patriarcais, seguida das outras três, que são as Igrejas arcebispais maiores, as Igrejas metropolitanas e as demais Igrejas sui iuris. Estas categorias “representam a escala ascendente da autonomia eclesiástica destas Igrejas, que corresponde a sua madurez no plano eclesiástico” [1]. Esta diversidade eclesiástica, no entanto, não afeta a igualdade da dignidade entre as diversas categorias.

A Igreja patriarcal
O Concílio Vaticano II não só afirma que a instituição da Igreja patriarcal pertence à antiga tradição e que está reconhecida desde os primeiros Concílios Ecumênicos, mas que sua declaração mais importante é que tal consuetudo “deve se atribuir à divina Providência” [2]. Esta divina Providência mostrou-se com o nascimento de muitas comunidades cristãs, com a pregação dos Apóstolos e de seus sucessores e com a instituição dos bispos e das dioceses nas grandes cidades. Iniciou-se, portanto, o chamado “reagrupamento” das diversas dioceses em torno a uma diocese principal. Este reagrupamento estava determinado por vários critérios: cultural, social e político, que fez que os bispos se reunissem ao redor de grandes cidades como Roma, Alexandria e Antioquia. A primeira pessoa que atribuiu o termo de “Patriarca” aos bispos de Roma, de Alexandria e de Antioquia foi o imperador Justiniano I (527- 565). O título de Patriarca, portanto, começou a substituir o termo “Eparca” [3] somente para estes três bispos. Nasceu portanto a chamada “triarquia jurisdicional”. Com a instituição dos patriarcados de Jerusalém e Constantinopla, a triarquia se transformou em pentarquia jurisdicional dos Patriarcas. 

– A hierarquia da Igreja patriarcal sui iuris
A Igreja patriarcal está presidida pelo Patriarca e está constituída por vários institutos, os quais junto com o Patriarca governam essa Igreja de forma colegial. O Patriarca é eleito segundo as normas dos cânones 63-77. Canonicamente, o Patriarca é eleito pelo Sínodo dos bispos da Igreja patriarcal. O Sínodo reúne-se, segundo as normas do direito, antes de se cumprir um mês de vacância da sede patriarcal. Têm direito a voto somente os membros do Sínodo dos bispos da Igreja patriarcal. Para a validade da eleição, é necessária a presença de ao menos dois terços dos bispos convocados. Quem recebe os dois terços dos votos é declarado eleito. Se os escrutínios superam um certo número – ao menos três – sem poder levar a esta maioria, ao menos que por direito particular não seja estabelecido de forma distinta, a norma estabelece que seja suficiente a maioria dos votos e que a eleição se leve a termo segundo a norma do can. 183 §§ 3 e 4. Antes de quinze dias, se a eleição não acontece, a própria se remete ao Romano Pontífice, já que “o Romano Pontífice é quem garante este funcionamento da vida sinodal das Igrejas orientais e guarda para que este funcionamento se realize segundo as normas do direito” [4]. Após a eleição e a aceitação do novo eleito, se este já é bispo, procede-se por parte do Sínodo a sua proclamação e entronização como Patriarca, segundo as normas do direito, “que implica o prévio consentimento do Romano Pontífice no que respeita à dignidade episcopal”[5]; se, em contrapartida, o eleito foi legitimamente proclamado bispo, mas ainda não está ordenado, antes tem de ser ordenado bispo e depois se procede como no caso precedente. Toca ao Sínodo dos bispos da Igreja patriarcal informar a Sé Apostólica da eleição realizada. Por parte do novo eleito, deve ser enviada uma carta, como sinal de comunhão, aos Patriarcas das demais Igrejas orientais e outra carta ao Romano Pontífice para pedir a comunhão eclesiástica.

– A potestade do Patriarca
O Patriarca é um bispo qualificado como primus inter pares [6]. Uma vez que o Patriarca recebeu a communio ecclesiastica, pode também convocar o Sínodo e ordenar bispos. O Patriarca preside sua própria Igreja como pater et caput, preside o Sínodo dos bispos da Igreja patriarcal, o Sínodo permanente e a assembleia patriarcal, e representa sua própria igreja em todos os assuntos jurídicos. A potestade do Patriarca, exercida segundo a norma do direito estabelecido ou aprovado pela Suprema Autoridade da Igreja, é ordinária e própria, mas pessoal. Esta potestade está limitada dentro dos confins do território da Igreja patriarcal, a menos que não conste diversamente pela natureza do assunto, ou também pelo direito comum ou patriarcal aprovado pelo Romano Pontífice. Fora do território, o Patriarca tem de fato a potestade pessoal sobre todos os fiéis, somente a respeito do patrimônio litúrgico. Dentro dos limites de seu patriarcado, o Patriarcado possui a potestade executiva mas não legislativa nem a judicial. Sua potestade, algumas vezes, está condicionada pelo Sínodo dos bispos de sua própria Igreja ou pelo Sínodo permanente. Quer dizer, o Patriarca goza de uma potestade pessoa, que exerce sem ser condicionado por ninguém, e de outra potestade limitada pelo consenso do Sínodo da Igreja patriarcal e pelo Sínodo permanente.

– O Sínodo da Igreja Patriarcal
Este Sínodo constitui a instância superior da Igreja patriarcal. O Patriarca convoca o Sínodo e o preside. De fato, “não se pode entender o funcionamento do Sínodo sem a presença do Patriarca, quem o convoca, o preside e promulga suas decisões, atribuindo assim a canonicidade a sua tarefa” [7]. O Sínodo dos bispos está composto somente por todos os bispos ordenados para o serviço desta igreja onde estejam constituídos, dentro e fora dos confins do território da Igreja patriarcal. O Sínodo goza da potestade legislativa que consiste na emanação de leis para toda Igreja patriarcal e em sua interpretação. Toca também ao Sínodo a potestade judicial. Este constitui o tribunal superior dentro dos limites do território da própria Igreja, ficando salva a competência da Santa Sé.

– O Sínodo permanente
Este Sínodo é o instituto fundamental da cúria patriarcal. O Sínodo permanente está composto pelo Patriarca e por quatro bispos, dos quais três são eleitos pelo Sínodo dos bispos da Igreja patriarcal e um é eleito e nomeado pelo Patriarca. A eleição dos três bispos é “a maior novidade do Codex Canonum Ecclesiarum Orientalium que, ademais, considera a figura do Sínodo permanente substancialmente sem mudanças a respeito do direito precedente, à parte quanto já se disse sobre seu poder judicial” [8]. Toca ao Patriarca convocar o Sínodo permanente e presidi-lo. Esta Sínodo deve ser convocado em tempos determinados, ao menos duas vezes ao ano, e cada vez que necessita de seu consenso ou conselho, para a validade dos assuntos da Igreja patriarcal. O Sínodo permanente, portanto, tem a tarefa de “acompanhar o Patriarca no exercício ordinário – se diria quase cotidiano – de sua potestade executiva” [9]. Dada a importância do papel deste Sínodo, este se considera indispensável para a Igreja patriarcal. O Sínodo permanente, portanto, não simplesmente um instituto de consulta, mas sobretudo um modo permanente de participação para os bispos eparquiais no governo de sua própria Igreja patriarcal.

– A assembleia patriarcal
A assembleia patriarcal oferece a possibilidade, não só aos bispos, mas a muitos membros da Igreja patriarcal: sacerdotes, diáconos, religiosos e leigos, de ter um papel consultivo para alguns assuntos que têm a ver com sua própria Igreja. De fato, o can. 140 define esta assembleia como o agrupamento consultivo de toda a Igreja patriarcal, que tem o papel de colaborar com o Patriarca e com o Sínodo dos bispos da Igreja patriarcal. A assembleia patriarcal deve ser convocada ao menos uma vez a cada cinco anos e cada vez que o Patriarca requeira, com o consenso do Sínodo dos bispos ou do Sínodo permanente. Toca ao Patriarca convocar a assembleia patriarcal, presidi-la e nomear o vice-presidente que o substitua para presidir a assembleia no caso de ausência sua. A assembleia patriarcal se dirige por seus estatutos aprovados pelo Sínodo dos bispos da Igreja patriarcal.
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1) G. NEDUNGATT, Le Chiese Cattoliche Orientali e il Nuovo Codice dei Canoni, en La Civiltà Cattolica 1992, I, 329.
2) I. ŽUŽEK, Un Codice per una “Varietas Ecclesiarum”, 5.
3) Cfr. F. SOLLAZZO, I Patriarchi nel Diritto Canonico Orientale e Occidentale, en Atti del Congresso Internazionale: Incontro fra Canonisti d’Oriente e d’Occidente (Bari 1991), dirigido por R. COPPOLA, II, Bari 1994, 240.
4) D. SALACHAS, Le Chiese Patriarcali, 83.
5) I. ŽUŽEK, Un Codice per una “Varietas Ecclesiarum”, 14.
6) Nuntia, 15 (1982) 5 e 22 (1986) 5.
7) D. SALACHAS, Lo Statuto “sui iuris” delle Chiese Patriarcali nel Diritto Canonico Orientale, 596.
8) I. ŽUŽEK, Un Codice per una “Varietas Ecclesiarum”, 19.
9) Idem.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

DOM EMANUEL D’ABLE DO AMARAL OSB

                                                   D. Emanuel D'Able do Amaral, OSB


Dom Emanuel D´Able do Amaral nasceu no Rio de Janeiro, no bairro de Santa Teresa, no dia 13 de agosto de 1957. Filho de Joaquim Dias do Amaral (carioca) e de Catarina Lúcia d’Able do Amaral (Pernambucana). Nome civil: Joaquim Augusto d’Able do Amaral.
Antes de entrar para a vida monástica morou nas cidades do Rio de Janeiro, Vassouras (RJ), São Lourenço (MG), Engenheiro Paulo de  Frontin (RJ) e Valença (RJ).
Entrou para a Ordem de São Bento em 30 de janeiro de 1978, no Mosteiro de São Bento de São Paulo. Nesse mosteiro iniciou o postulantado e mais tarde o noviciado. Além da formação monástica básica estudou latim, francês e grego bíblico. Em 1979 iniciou o Curso de Filosofia no Mosteiro de São Paulo, terminando em 1981.
Participou como membro fundador do Mosteiro da Ressurreição de Ponta Grossa.  No Ifiteme (Instituto de Filosofia e Teologia Mater Ecclesiae) estudou Teologia de 1982 a 1985. Alem do grego bíblico também estudou hebraico. Em 1985 foi nomeado Sub-Prior do Mosteiro. Foi ordenado sacerdote em 7 de dezembro de 1985 em Engenheiro Paulo de Frontin RJ por Dom Waldyr Calheiros de Novaes (Bispo de Barra de Piraí-Volta Redonda).
Esteve em Roma de 1987 a 1989 estudando Teologia Bíblica (Licenza Specializata = mestrado no Brasil) na Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Gregoriana, residindo no Colégio Santo Anselmo, sede Ordem de São Bento, no Monte Aventino.
Retornando ao Brasil em 1989 iniciou sua  carreira como Professor de Sagrada Escritura no Ifiteme. Foi nomeado pelo Bispo Diocesano de Ponta Grossa como um dos “Diretores Espirituais do Seminário Diocesano”. Foi também eleito Co-Visitador pelo Capítulo Geral da  Congregação Beneditina do Brasil em 1993.
 Foi professor até 22 de junho de 1994 quando foi eleito 79° abade do Mosteiro de São Bento da Bahia. Sendo instalado no cargo na tarde do dia 23 de junho por Dom Basílio Penido, Abade Presidente da Congregação Beneditina do Brasil. Recebeu a bênção abacial no dia 11 de setembro de 1994, na Catedral Basílica, de Dom Frei Lucas Cardeal Moreira Neves O.P.
Logo que chegou a Salvador como abade pegou o início do plano de revitalização do mosteiro com a participação da Odebrecht, do Governo do Estado da Bahia e de outras instituições. No final de 1994 inaugurou o novo Colégio de São Bento (com o segundo grau) e a Basílica abacial de São Sebastião. Em 1995 abriu a Biblioteca aos pesquisadores, o Museu São Bento e o Laboratório de Restauração de Livros Raros. A Basílica do Mosteiro foi aberta à música sacra e erudita.
No dia 5 de junho de 1995, Solenidade de Pentecostes, retomou o “Canto Gregoriano” na missa conventual aos domingos. Incentivou a gravação do primeiro CD com Cantos Gregorianos.
Recebeu a Medalha Tomé de Souza, conferida pela Câmara Municipal de Salvador em 11.12.96, por proposta dos vereadores João Carlos Bacelar e Silvoney Salles.
Foi eleito “Personalidade de destaque no meio cultural da Bahia” pelo Conselho Estadual de Cultura em 12.12.96, por proposta do poeta  Fernando da Rocha Peres.
Recebeu o certificado de colaborador do Curso Internacional de Extensão Universitária “América Latina Comunicação e Cultura” da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo em 05.11.97.
Sendo o Mosteiro da Bahia elevado pelo Papa João Paulo II à categoria de Arquiabadia em 24 de novembro de 1998, foi “ipso facto” elevado ao cargo de Arquiabade.
Foi também designado como membro teólogo pelo Governo Federal através do Ministério da Saúde para compor o “Comitê de Ética em Pesquisa” do Centro de Pesquisa Gonçalo Muniz da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Salvador.
Foi eleito Abade Presidente da Congregação Beneditina do Brasil em 1° de maio de 2002 no Capitulo Geral em Brasília (DF).
Em 2002 fundou o ITESB (Instituto Teológico São Bento), com biênio filosófico e quatriênio teológico. Foi o primeiro Diretor desse Instituto. Fundou a Revista Análise &Síntese, em 2002. Revista de Filosofia e Teologia.
Em 24 de agosto de 2004 foi assinado pelo Ministro da Educação o documento que aprovou a “Faculdade São Bento da Bahia” e como Arquiabade e Presidente da Mantenedora recebeu o título de Grão-Chanceler.
Recebeu o Título Honorífico de “Cidadão Baiano” conforme resolução número 1299 de 17 de abril de 2002, por indicação da Deputada Estadual Lídice da Mata (PSB).
Foi nomeado pela Santa Sé “Visitador Apostólico” da Abadia Territorial de Nossa Senhora de Montserrat, Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro.
Recebeu o Diploma como participante Revista Imprensa: CNP: Petróleo e Ecologia.
Recebeu a Medalha Dois de julho no dia 27 de dezembro de 2004, sendo Prefeito Dr. Antônio Imbassahy,
Foi reeleito Abade Presidente no último Capítulo Geral da Congregação Beneditina do Brasil, reunido no Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, no dia 27 de abril de 2008, para mais um e último mandato de três anos.
É Titular da Cadeira 34 do Instituto Genealógico da Bahia. Tomou posse em 11 de junho de 2008 nessa cadeira que pertenceu ao saudoso e querido Dr. Jorge Calmon. Foi aclamado como Presidente de Honra desse Instituto.
Foi novamente homenageado pela Associação dos Funcionários Públicos do Estado da Bahia na passagem dos 90 anos daquela Associação no último 29 de agosto de 2008.
Foi nomeado Conselheiro do Conselho Federal Estadual Consultivo do Iphan Bahia-Sergipe (novembro de 2008).
Eleito para a Cadeira 37 da Academia de Letras da Bahia no dia 20 de novembro de 2008. Tomou posse no dia 28 de maio de 2009, sendo saudado pelo acadêmico Fernando da Rocha Peres.
Membro da Irmandade do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da Conceição da Praia (Salvador) e da Confraria do Santo Condestável São Frei Nuno de Santa Maria Álvares Pereira (Colegiada de Santa Maria da Misericórdia do Castelo de Ourém em Portugal).
É Comendador Honorário da Real Ordem de São Miguel da Ala e Capelão para o Brasil da Real Irmandade de São Miguel da Ala (Portugal).
É também “Sócio Honorário” do “Istituto Sacro Romano Impero” que tem sua sede na cidade de Florença (Itália).
Possui o título nobiliárquico hereditário de Conde  d’Able do Amaral, outorgado pelo Rei Kigeli V de Ruanda.
É Comendador e Grão-Prior da Delegação Magistral de São Salvador da Bahia da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém.

Escreveu o livro “Introdução à História Monástica” Edições São Bento, Salvador, 2006. O livro é resultado de suas aulas de História Monástica. Foi uma tentativa de oferecer aos leitores da língua portuguesa uma Introdução Geral ao monaquismo desde as origens ao século XIX.  Não existia em português uma obra assim. Havia textos dispersos sobre o monaquismo.  Esse livro veio preencher uma lacuna e está sendo utilizado  nos mosteiros em cursos preparatórios para o vestibular e em  Cursos Superiores.
            Tem artigos publicados em diversas revistas nacionais e internacionais.
Ao longo desses 16 anos que reside em Salvador, como abade do mosteiro, concedeu diversas entrevistas sobre diferentes assuntos aos jornais da cidade e do exterior e também a algumas redes de televisão de difusão estadual, nacional e em rede por assinatura. Algumas dessas entrevistas aos jornais e televisões encontram-se nos arquivos do mosteiro e outras imagens estão nos arquivos das televisões de Salvador.
Fez também algumas apresentações em livros que foram publicados através das Edições São Bento do Mosteiro da Bahia e de alguns livros de outras Edições tais como: A Apresentação do livro “Ensinamentos de um Abade”, de Dom Joaquim de Arruda Zamith OSB, Abade Emérito de São Paulo e ex Abade Presidente, Edições Subiaco, Juiz de Fora 2005 e também a apresentação da “Introdução a Liturgia” do Professor Edes Andrade Pereira. Tem também um texto de sua autoria no início do livro “O Milagre de Dom Amoroso” do escritor Eduardo Diogo Tavares.  Ajudou também na revisão deste livro.
As homilias que fez durante esses 16 anos na Basílica do mosteiro estão sendo digitadas para serem oportunamente publicadas.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Audiência com Bento XVI encerra visita Ad Limina do Regional Nordeste 3

Nesta sexta-feira, 10, o papa Bento XVI recebeu em audiência, em Castel Gandolfo, os bispos do Regional Nordeste 3 da CNBB (Bahia e Sergipe). O esperado encontro em grupo dos 28 bispos em visita "Ad Limina" teve início com o discurso de saudação dirigido ao papa pelo bispo de Itabuna e presidente do Regional, dom Ceslau Stanula.

"Beatíssimo Padre, ansiosamente esperávamos a chegada deste feliz momento do encontro com Vossa Santidade na visita “ad Limina Apostolorum”. Viemos aqui como sucessores dos apóstolos a fim de venerar os túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, encontrarmo-nos com o Bispo de Roma e reafirmar a nossa comunhão com o sucessor de Pedro (...) Trazemos também a saudação dos aproximadamente 16 milhões de pessoas que estão entregues ao nosso pastoreio nestes dois Estados: Bahia e Sergipe”, disse dom Ceslau. Ele concluiu sua saudação pedindo para todos os fiéis, da Bahia e Sergipe, a confortadora bênção apostólica do papa Bento XVI.

A seguir, o Pontífice dirigiu seu discurso aos bispos do Regional Nordeste 3. Após saudar calorosamente os 28 bispos presentes, e agradecer as palavras que lhe foram dirigidas por dom Ceslau, Bento XVI ressaltou: "Há mais de cinco séculos, justamente na vossa região, se celebrava a primeira Missa no Brasil, tornando realmente presente o Corpo e o Sangue de Cristo para a santificação dos homens e das mulheres desta bendita nação que nasceu sob os auspícios da Santa Cruz. Era a primeira vez que o Evangelho de Cristo vinha a ser proclamado a este povo, iluminando a sua vida diária. Esta ação evangelizadora da Igreja Católica foi e continua sendo fundamental na constituição da identidade do povo brasileiro caracterizada pela convivência harmônica entre pessoas vindas de diferentes regiões e culturas”. Em seguida, o papa frisou que apesar de os valores da fé católica terem moldado o coração e o espírito brasileiros, hoje se observa uma crescente influência de novos elementos na sociedade, que há algumas décadas eram-lhe praticamente alheios. O pontífice evidenciou a questão do abandono de muitos católicos da vida eclesial ou mesmo da Igreja, enquanto no panorama religioso do Brasil se assiste à rápida expansão de comunidades evangélicas e neopentecostais. "Em certo sentido as razões que estão na raiz do êxito destes grupos são um sinal da difundida sede de Deus entre o vosso povo. É também um indício de uma evangelização, a nível pessoal, às vezes superficial; de fato, os batizados não suficientemente evangelizados são facilmente influenciáveis, pois possuem uma fé fragilizada e muitas vezes baseada num devocionismo ingênuo, embora, como disse, conservem uma religiosidade inata”. Diante dessa situação, Bento XVI advertiu uma imperiosa necessidade: "Com o crescimento de novos grupos que se dizem seguidores de Cristo, ainda que divididos em diversas comunidades e confissões, faz-se mais imperioso, da parte dos pastores católicos, o compromisso de estabelecer pontes de contato através de um sadio diálogo ecumênico na verdade.  Tal esforço é necessário, antes de qualquer coisa, porque a divisão entre os cristãos está em contraste com a vontade do Senhor de que «todos sejam um» (Jo 17,21). Além disso, a falta de unidade é causa de escândalo que acaba por minar a credibilidade da mensagem cristã proclamada na sociedade”, completou o papa, que concluiu o encontro com uma saudação apostólica.

A visita Ad Limina do Regional Nordeste 3 termina neste sábado, 11.

CNBB com RV

Formação litúrgico-musical acontece na arquidiocese de Curitiba

Qua, 29 de Setembro de 2010 14:28 CNBB

Com o objetivo de dar qualificação e formação na área da liturgia, o setor Colombo da arquidiocese de Curitiba (PR) realiza todos os anos uma Semana de Liturgia. Este ano, o evento acontece desde ontem, 28, e segue até amanhã, 30. O tema de estudo e aprofundamento é a Função Ministerial e Estética da Música na Liturgia.

“Na liturgia, enquanto ação celebrativa, o canto e a música têm um papel fundamental como sua parte integrante, possuindo, por isso, um caráter sacramental. A música litúrgica exerce um verdadeiro ministério, não é apenas um simples meio de ornamentação e embelezamento da liturgia”, explica o assessor de Música Litúrgica da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre José Carlos Sala. Padre Sala destaca ainda que é fundamental e urgente para todos os que exercem o serviço da música na liturgia (cantores, instrumentistas, salmistas, animadores, compositores) uma adequada formação litúrgica para que as músicas que forem executadas e sua interpretação estejam em sintonia com os momentos e gestos rituais, valorizando a participação ativa da assembleia.

Os trabalhos desta Semana de Liturgia são conduzidos por padre Sala com organização do padre Marcos Paulo Honório da Silva, contando com a participação de mais de 350 agentes de música litúrgica.

Fonte: CNBB

Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos realiza Encontro Litúrgico em Bogotá

A Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) participou do Encontro Litúrgico Latino-americano e Caribenho, promovido pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. O encontro foi presidido pelo cardeal, prefeito da congregação, dom Antônio Llovera Cañares e pelo sub-secretário, monsenhor Juan Miguel Ferrer. O Encontro Litúrgico aconteceu na sede da Conferência Episcopal Colombiana, em Bogotá, entre os dias 20 a 24. Estiveram presentes os bispos presidentes das Comissões de Liturgia e seus assessores das 22 Conferências da América Latina e do Caribe, além dos bispos e assessores convidados de Portugal, Espanha e os responsáveis pelos povos de língua espanhola na Conferência Episcopal dos Estados Unidos da América. Além desses, estiveram presentes a Equipe de Assessores da Seção de Liturgia do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM). Do Brasil, foram os bispos: dom Joviano de Lima Júnior (arcebispo de Ribeirão Preto-SP e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da CNBB); dom Fernando Panico (bispo de Crato-CE) e dom Sérgio Aparecido Colombo (bispo de Bragança Paulista), além do assessor da Comissão para a Liturgia, padre Hernaldo Pinto Farias, irmã Veronice Fernandes, e João Martins Filho. O tema central estudado foi “A vida litúrgica e a Igreja na América Latina após a Conferência de Aparecida”.  “É urgente que a Igreja reavive o sentido e a importância da liturgia, que, com a Bíblia e os escritos dos Santos Padres, é a fonte da santificação da pessoa humana e o espaço da glorificação de Deus”, destaca padre Hernaldo. No dia 22, cada Conferência Episcopal teve a oportunidade de apresentar a sua realidade litúrgica, relatando as conquistas, as dificuldades e os desafios encontrados no trabalho da liturgia em seu país. No mesmo dia houve o encontro entre as Comissões de Liturgia de Brasil e Portugal, para discutir pontos referentes à tradução da terceira edição típica do Missal Romano.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Para salvar a vida: as mulheres no poder

Há uma feliz singularidade na atual disputa presidencial no Brasil: a presença de duas mulheres, Marina Silva e Dilma Rousseff. Elas são diferentes, cada qual com seu estilo próprio, mas ambas com indiscutível densidade ética e com uma compreensão da política como virtude a serviço do bem comum e não como técnica de conquista e uso do poder, geralmente, em benefício da própria vaidade ou de interesses elitistas que ainda predominam na democracia que herdamos. Elas emergem num momento especial da história do pais, da humanidade e do planeta Terra. Se pensarmos radicalmente e chegarmos à conclusão como chegaram notáveis cosmólogos e biólogos de que o sujeito principal das ações não somos nós mesmos, num antropocentrismo superficial, mas é a própria Terra, entendida como superorganismo vivo, carregado de propósito, Gaia e Grande Mãe, então diríamos que é a própria Terra que através destas duas mulheres nos está falando, conclamando e advertindo. Elas são a própria Terra que clama, a Terra que sente e que busca um novo equilíbrio. Esse novo equilíbrio deverá passar pelas mulheres predominantemente e não pelos homens. Estes, depois de séculos de arrogância, estão mais interessados em garantir seus negócios do que salvar a vida e proteger o planeta. Os encontros internacionais mostram-nos despreparados para lidar com temas ligadas à vida e à preservação da Casa Comum. Nesse momento crucial de graves riscos, são invocados aqueles sujeitos históricos que estão, pela própria natureza, melhor apetrechados a assumirem missões e ações ligadas à preservação e ao cuidado da vida. São as mulheres e seus aliados: aqueles homens que tiverem integrado em si as virtudes do feminino. A evolução as fez profundamente ligadas aos processos geradores e cuidadores da vida. Elas são as pastoras da vida e os anjos da guarda dos valores derivados da dimensão da anima (do feminino na mulher e no homem) que são o cuidado, a reverência, a capacidade de captar, nos mínimos sinais, mensagens e sentidos, sensíveis aos valores espirituais como a doação, o amor incondicional, a renúncia em favor do outro e a abertura ao Sagrado. O feminismo mundial trouxe uma crítica fundamental ao patriarcalismo que nos vem desde o neolítico. O patriarcado originou instituições que ainda moldam as sociedades mundiais como: a razão instrumental-analítica que separa natureza e ser humano e que levou à dominação sobre os processos da natureza de forma tão devastadora que se manifesta hoje pelo aquecimento global; criou o Estado e sua burocracia, mas organizado nos interesses dos homens; projetou um estilo de educação que reproduz e legitima o poder patriarcal; organizou exércitos e inaugurou a guerra. Afetou outras instâncias como as religiões e igrejas cujos deuses ou atores são quase todos masculinos. O “destino manifesto” do patriarcado é do dominium mundi (a dominação do mundo), com a pretensão de fazer-nos “mestres e donos da natureza”(Descartes). Atualmente, os homens (varões) se fizeram vítimas do “complexo de deus” no dizer de um eminente psicalista alemão K. Richter. Assumiram tarefas divinas: dominar a natureza e os outros, organizar toda a vida, conquistar os espaços exteriores e remodelar a humanidade. Tudo isso foi simplesmente demais. Não deram conta. Sentem-se um “deus de araque” que sucumbe ao próprio peso, especialmente porque projetou uma máquina de morte, capaz de erradicá-lo da face da Terra. É agora que se faz urgente a atuação salvadora da mulher. Damos razão ao que escreveu anos atrás o Fundo das Nações Unidas para a População:”A raça humana vem saqueando a Terra de forma insustentável e dar às mulheres maior poder de decisão sobre o seu futuro pode salvar o planeta a destruição”. Observe-se: não se diz “maior poder de participação às mulheres”coisa que os homens concedem mas de forma subalterna. Aqui se afirma: “poder de decisão sobre o futuro.” Essa decisão, as mulheres devem assumir, incorporando nela os homens, pois caso contrário, arriscaremos nosso futuro. Esse é o significado profundo, diria, providencial, das duas candidatas mulheres à presidência do Brasil: Marina Silva e Dilma Rousseff.

Leonardo Boff escreveu com Rose Marie Muraro Feminino e masculino.Uma nova consciência para o encontro das diferenças (2002).

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Uma árvore que cai, faz mais barulho que uma floresta que cresce.

Carta do padre salesiano uruguaio Martín Lasarte, que trabalha em Angola, de 06 de abril e endereçada ao jornal norte-americano The New York Times.
                                                           
Querido irmão e irmã jornalista: sou um simples sacerdote católico. Sinto-me orgulhoso e feliz com a minha vocação. Há vinte anos vivo em Angola como missionário. Sinto grande dor pelo profundo mal que pessoas, que deveriam ser sinais do amor de Deus, sejam um punhal na vida de inocentes. Não há palavras que justifiquem estes atos. Não há dúvida de que a Igreja só pode estar do lado dos mais frágeis, dos mais indefesos. Portanto, todas as medidas que sejam tomadas para a proteção e prevenção da dignidade das crianças será sempre uma prioridade absoluta. Vejo em muitos meios de informação, sobretudo em vosso jornal, a ampliação do tema de forma excitante, investigando detalhadamente a vida de algum sacerdote pedófilo. Assim aparece um de uma cidade dos Estados Unidos, da década de 70, outro na Austrália dos anos 80 e assim por diante, outros casos mais recentes... Certamente, tudo condenável! Algumas matérias jornalísticas são ponderadas e equilibradas, outras exageradas, cheias de preconceitos e até ódio. É curiosa a pouca notícia e desinteresse por milhares de sacerdotes que consomem a sua vida no serviço de milhões de crianças, de adolescentes e dos mais desfavorecidos pelos quatro cantos do mundo!

Penso que ao vosso meio de informação não interessa que eu precisei transportar, por caminhos minados, em 2002, muitas crianças desnutridas de Cangumbe a Lwena (Angola), pois nem o governo se dispunha a isso e as ONGs não estavam autorizadas; que tive que enterrar dezenas de pequenos mortos entre os deslocados de guerra e os que retornaram; que tenhamos salvo a vida de milhares de pessoas no Moxico com apenas um único posto médico em 90.000 km2, assim como com a distribuição de alimentos e sementes; que tenhamos dado a oportunidade de educação nestes 10 anos e escolas para mais de 110.000 crianças... Não é do interesse que, com outros sacerdotes, tivemos que socorrer a crise humanitária de cerca de 15.000 pessoas nos aquartelamentos da guerrilha, depois de sua rendição, porque os alimentos do Governo e da ONU não estavam chegando ao seu destino. Não é notícia que um sacerdote de 75 anos, o padre Roberto, percorra, à noite, a cidade de Luanda curando os meninos de rua, levando-os a uma casa de acolhida, para que se desintoxiquem da gasolina, que alfabetize centenas de presos; que outros sacerdotes, como o padre Stefano, tenham casas de passagem para os menores que sofrem maus tratos e até violências e que procuram um refúgio. Tampouco que Frei Maiato com seus 80 anos, passe casa por casa confortando os doentes e desesperados. Não é notícia que mais de 60.000 dos 400.000 sacerdotes e religiosos tenham deixado sua terra natal e sua família para servir os seus irmãos em um leprosário, em hospitais, campos de refugiados, orfanatos para crianças acusadas de feiticeiros ou órfãos de pais que morreram de Aids, em escolas para os mais pobres, em centros de formação profissional, em centros de atenção a soropositivos... ou, sobretudo, em paróquias e missões dando motivações às pessoas para viver e amar.

Não é notícia que meu amigo, o padre Marcos Aurelio, por salvar jovens durante a guerra de Angola, os tenha transportado de Kalulo a Dondo, e ao voltar à sua missão tenha sido metralhado no caminho; que o irmão Francisco, com cinco senhoras catequistas, tenham morrido em um acidente na estrada quando iam prestar ajuda nas áreas rurais mais recônditas; que dezenas de missionários em Angola tenham morrido de uma simples malária por falta de atendimento médico; que outros tenham saltado pelos ares por causa de uma mina, ao visitarem o seu pessoal. No cemitério de Kalulo estão os túmulos dos primeiros sacerdotes que chegaram à região... Nenhum passa dos 40 anos. Não é notícia acompanhar a vida de um Sacerdote “normal” em seu dia a dia, em suas dificuldades e alegrias consumindo sem barulho a sua vida a favor da comunidade que serve. A verdade é que não procuramos ser notícia, mas simplesmente levar a Boa-Notícia, essa notícia que sem estardalhaço começou na noite da Páscoa. Uma árvore que cai faz mais barulho do que uma floresta que cresce. Não pretendo fazer uma apologia da Igreja e dos sacerdotes. O sacerdote não é nem um herói nem um neurótico. É um homem simples, que com sua humanidade busca seguir Jesus e servir os seus irmãos. Há misérias, pobrezas e fragilidades como em cada ser humano; e também beleza e bondade como em cada criatura... Insistir de forma obsessiva e perseguidora em um tema perdendo a visão de conjunto cria verdadeiramente caricaturas ofensivas do sacerdócio católico na qual me sinto ofendido. Só lhe peço, amigo jornalista, que busque a Verdade, o Bem e a Beleza. Isso o fará nobre em sua profissão.

Em Cristo,
Pe. Martín Lasarte, SDB.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Pálio é penhor de liberdade

A Basílica de São Pedro acolheu na manhã desta terça-feira a celebração eucarística por ocasião da solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo. O tema da homilia do Santo Padre foi a liberdade da Igreja, contida em toda a liturgia da Palavra daquela celebração. Comentando as leituras do dia, Bento XVI descreveu as provações físicas e espirituais sofridas por Pedro e Paulo e a ação libertadora de Deus, que os conduziu às portas do Céu. Na primeira leitura, é narrado um episódio específico que mostra a intervenção do Senhor para libertar Pedro da prisão; na segunda, Paulo diz-se convencido de que o Senhor, que já o salvou da "boca do leão", o libertará "de todo o mal". A experiência dos dois Apóstolos é significativa hoje para a Igreja, notou Bento XVI. Analisando os dois milênios de sua história, observa-se que – como tinha preanunciado Jesus – jamais faltaram provações aos cristãos, que em alguns períodos e lugares assumiram o caráter de verdadeiras perseguições. Todavia, advertiu o Papa, as perseguições não constituem o perigo mais grave para a Igreja. O dano maior é representado pela contaminação da fé e da vida cristã de seus membros e de sua comunidade, ferindo a integridade do Corpo místico, enfraquecendo a sua capacidade de profecia e de testemunho e ofuscando a beleza de seu rosto. Esta realidade é descrita nas cartas paulinas, que narram problemas de divisões, de incoerências e de infidelidades ao Evangelho que ameaçam seriamente a Igreja. Em meio aos perigos, Paulo confortava os fiéis: os homens que realizam o mal "não irão muito longe, porque a própria estupidez será manifestada a todos". Há então uma garantia de liberdade assegurada por Deus à Igreja – liberdade seja dos laços materiais, que buscam impedir ou coagir a sua missão, seja dos males espirituais e morais, que podem ferir sua autenticidade e credibilidade. O tema da liberdade da Igreja tem também uma atinência ao rito da imposição do Pálio, afirmou o Papa, saudando os 38 arcebispos metropolitanos que receberam hoje a estola de lã.

A comunhão com Pedro e seus sucessores é uma garantia de liberdade para os Pastores da Igreja e para as próprias comunidades a eles confiadas. A comunhão com a Sé Apostólica assegura às Igrejas particulares e às Conferências Episcopais a liberdade no que diz respeito a poderes locais, nacionais e internacionais, que podem em alguns casos impedir sua missão por motivos políticos ou ideológicos. Além disso, o ministério petrino é garantia de liberdade no sentido da plena adesão à verdade, de modo que o Povo de Deus seja preservado dos erros concernentes à fé e à moral. O Pálio então se torna, neste sentido, um penhor de liberdade, analogamente ao 'jugo' de Jesus, que Ele convida a tomar cada um sobre os próprios ombros." Por fim, Bento XVI se dirigiu à delegação do Patriarcado de Constantinopla, tradicionalmente presente na celebração da solenidade dos Padroeiros de Roma. O Papa citou a promessa de Cristo de que as forças do inferno não prevalecerão sobre a sua Igreja: "Estas palavras podem ter também um significativo valor ecumênico, a partir do momento de que um dos efeitos típicos da ação do Maligno é exatamente a divisão no interior da Comunidade eclesial. As divisões, de fato, são sintomas da força do pecado, que continua a agir nos membros da Igreja também depois da redenção. Mas a palavra de Cristo é clara: 'non praevalebunt' – não prevalecerão (Mt 16,18)". Depois da homilia, o Pontífice impôs o Pálio pessoalmente a cada um dos 38 arcebispos. Entre eles, estavam dois brasileiros: o Arcebispo de Recife e Olinda, Dom Antônio Fernando Saburido, e o Arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa.

29/06/2010

terça-feira, 8 de junho de 2010

Santo Sudário: respostas para perguntas frequentes

Ao concluir no dia 23 de maio a ostensão do Santo Sudário, que desde 10 de abril recebeu milhões de peregrinos em Turim , vejam algumas das perguntas mais frequentes que surgem sobre esse “ícone” impresso com sangue, como disse Bento XVI, ao venerar o manto sagrado a 2 de maio na catedral de Turim.

1) Os evangelhos mencionam o Santo Sudário?
– Sim, os quatro evangelhos consideram o detalhe do manto que envolveu Jesus em sua morte:
“José, tomando o corpo, envolveu-o num lençol limpo e o colocou num túmulo novo, que mandara escavar na rocha. Em seguida, rolou uma grande pedra na entrada do túmulo e retirou-se.” (Mt 27, 59).

"José comprou um lençol de linho, desceu Jesus da cruz, envolveu-o no lençol e colocou-o num túmulo escavado na rocha; depois, rolou uma pedra na entrada do túmulo" (Mc 15, 46).

"Desceu o corpo da cruz, enrolou-o num lençol e colocou-o num túmulo escavado na rocha, onde ninguém ainda tinha sido sepultado." (Lc 23, 53).

"Os dois corriam juntos, e o outro discípulo correu mais depressa, chegando primeiro ao túmulo. Inclinando-se, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou. Simão Pedro, que vinha seguindo, chegou também e entrou no túmulo. Ele observou as faixas de linho no chão, e o pano que tinha coberto a cabeça de Jesus: este pano não estava com as faixas, mas enrolado num lugar à parte." (João 20, 4 - 7).

2) Quais características tem o lençol?
– É um sudário de linho manchado com 4,41 metros de comprimento e 1,13 de largura, tecido com um desenho de espinha de peixe de alta qualidade e pouco comum para a época. Apresenta diversas cicatrizes que foram deixadas pelo tempo como manchas, queimaduras e remendos.

3) Por que apresenta sinais geométricos?
– Pela ocorrência de um incêndio na capela de Chambéry, em 1532. Uma gota de prata caiu em um dos cantos, causando graves danos. Logo foi reparado. Algumas religiosas clarissas o remendaram. Também apresenta manchas de água na parte central, ao que parece causadas pela água com que se apagou o incêndio.

4) Esse Sudário apresenta a imagem impressa de um homem. Quais são sua características?
–É um homem com barba, que jaz morto. Pode ser visto graças a uma impressão e manchas de sangue por meio das feridas sobre o rosto, cabeça, mãos e corpo. Também se vê a parte dorsal do corpo coberta de feridas muito peculiares que atravessam as costas, pernas e descem até a planta do pé. A imagem que aparece é dupla: frontal e dorsal. Ainda que apresente a imagem deste cadáver, não se registra nenhum resto de decomposição. Portanto, se comprova que foi envolto de um corpo humano durante um breve período, ainda que suficiente para que se imprimisse uma imagem.

5) Apresenta sinais de coroa de espinhos?
–Não de uma coroa, mas de um capacete de espinhos. As fotos do Santo Sudário permitem realizar uma “autópsia” teórica, que demonstra que as gotas de sangue dispersas na cabeça derivam claramente de feridas de pontas cravadas em vários pontos. Também são vistas diversas gotas de sangue venoso e arterial que correspondem à complexa rede de veias e artérias da cabeça. A parte cervical aparece fortemente castigada, como se a coroa de espinhos fosse continuamente apertada contra a cabeça. Se o homem do Santo Sudário for Jesus Cristo, pode-se ver que usou a coroa durante o caminho do Calvário e também na cruz, adicionando maior suplício. É importante explicar que nenhuma documentação histórica fala que os homens crucificados foram coroados com espinhos.

6) Apresenta sinais de flagelação?
–Sim. O flagelo usado contra o homem do Santo Sudário era dilacerante e contundante, entrava na pele; Mel Gibson se baseou em estudos do Santo Sudário para a cena da flagelação de Cristo no filme “A Paixão”. Os estudos demonstram que, como mostra o filme, cada golpe desgarrava a pele, provocando sangramento. Os chicotes apresentam três pontas terminadas em duas bolas metálicas. Este tipo de flagelo foi encontrado em escavações arqueológicas, sobretudo nas catacumbas romanas. O número de golpes recebidos, segundo os estudos do Santo Sudário, foram cerca de 120, sem contar os que não foram possíveis de ser estudados por conta do incêndio de 1532. Cada golpe gera um impacto de 8 centímetros quadrados e o volume contundido de 12 centímetros cúbicos.

7) Por que se considera que o homem do Santo Sudário esteve crucificado?
–Porque há sinais de pregos nas munhecas, não nas mãos, como diz a tradição, que Jesus foi crucificado, com pregos nos tornozelos, não nos pés. Antigamente os crucificados eram atados à cruz por meio de cordas e com pregos. Também há sinais de uma lança que atravessou sua costela, a que se refere o evangelho de João. O homem do Santo Sudário carregou uma madeira horizontal da cruz atada nos braços, como também mostra o filme “A Paixão de Cristo”. Com o toque da corda em seu corpo se abriram novamente as feridas da flagelação. No homem do Santo Sudário estas feridas podem ser vistas na escápula, antebraço e ombro direito.

8) Por que são tão famosos os negativos dessa imagem?
–O fotógrafo Secondo Pia foi o primeiro a fotografá-lo em 1898. Ao revelar o negativo se deu conta que a imagem mostrava o rosto e o corpo do homem do Santo Sudário no positivo, o que indica que o rosto do homem foi gravado naquele Sudário em imagem negativa. Posteriormente foram feitas mais fotos e a impressão da imagem saiu com melhor qualidade e o negativo oferecia um contraste natural e uma nitidez impressionante. Poder-se-ia dizer que a impressão do Santo Sudário é como um negativo que se converte em positivo.

9) É certo que o Santo Sudário tem características tridimensionais?
–Sim. Em 1976 os físicos John Jackson e Eric Jumper, com Kenneth Stevenson, Giles Charter e Peter Schmacher, estudaram a fotografia do Sudário com um programa especial chamado “Interpretation Systems VP-8 Image Analyzer”, nos laboratórios de Sandia Scientific Laboratories, em Albuquerque, Novo México. O resultado mostrava que a fotografia tinha uma dimensão “codificada”, com profundidade, diferente de qualquer outro desenho ou pintura que pudesse ser submetido ao analisador de imagens. Por isso, medindo a intensidade deste colorido, pode-se perfeitamente calcular e reproduzir, como numa estátua, o relevo do corpo envolto por esta “tela”. Este resultado do VP8 não foi obtido nunca com nenhuma outra imagem artística.

10) Como o Sudário chegou a Turim?
–Segundo fontes mais tardias, um sudário com o retrato de Jesus foi levado para Jerusalém e Edesa (atual Urfa, ao leste da Turquia), onde foi utilizado segundo uma tradição para apresentá-lo a Abgaro V, rei de Edesa (reinou de 13-50), convertendo-se ao cristianismo. Mas depois que seu filho voltou ao paganismo foram perdidas as pistas deste lençol. No ano de 525 Edesa sofreu uma inundação. Durante sua reconstrução apareceu um sudário com a imagem de Jesus. Imediatamente foi reconhecido como o Sudário que cinco séculos antes foi trazido de Jerusalém ao rei Abgaro. A imagem de Jesus é descrita como “não feita por mãos humanas”. No ano de 943, o Sudário foi levado a Constantinopla, onde foi recebido festivamente pelos fiéis. Durante o saque de Constantinopla, em 1294, segundo o testemunho de Robert de Clary, o Sudário desaparece: “Nem grego nem francês sabe para onde foi o Sudário quando a cidade foi tomada”, diz. A documentação histórica voltou a falar do Santo Sudário em 1355, sob a propriedade do cavaleiro Godofredo I de Charny. Ao morrer, o Santo Sudário foi herdado por sua irmã Margarita, que não teve descendência. Em 1418, foi levado a Lirey, um pequeno povoado ao norte da França, para protegê-lo das guerras com a Inglaterra. Margarita, em 1453, entrega o Santo Sudário aos Duques de Savóia. Em 1502, é inagurada a Sainte Chapelle, em Chambéry, para custodiar o Santo Sudário. Em 1532 houve um incêndio nessa capela. Em 1535, o Santo Sudário viajou por Turim, Milão, Vercelli e Niza, devido à invasão das tropas francesas em Chambery. Em 1578, chegou a Turim para ficar. Mas só em 1706 foi transportado por um tempo a Genova. Também entre 1938 e 1953 foi transportada à abadia Beneditina de Montevergine, para protegê-lo dos possíveis ataques durante a Segunda Guerra Mundial. Logo regressou à catedral São João Batista de Turim, onde está atualmente.

11) De quem é o Santo Sudário?
–Desde 1983 é propriedade da Igreja Católica, pois após a morte do rei Humberto II de Savóia foi entregue ao Papa João Paulo II.

12) De quanto em quanto tempo são realizadas exposições do Santo Sudário?
–Não existe uma periodicidade. O manto se expõe em tempos especiais por vontade do Papa. Desde que chegou a Turim, foi exposto em 1737 com motivo do casamento do duque Carlos Manuel III de Savóia. Logo foi exposto novamente em 1868, e em 1898 para celebrar os cinquenta anos da família Savóia como reis da Itália. Em 1931, foi exposto novamente com o casamento do príncipe Humberto de Savóia (logo rei Humberto II). Em 1978 e em 1998, para comemorar o primeiro centenário das fotografias do Santo Sudário. Foi exposto mais uma vez no ano 2000, com motivo do grande Jubileu e agora em 2010 por vontade do Papa Bento XVI.

13) Um estudo em 1988 disse que se tratava de um falso medieval...
–É certo. Em 1988 foi extraído um fragmento do Santo Sudário para determinar cientificamente sua origem. Três laboratórios de Carbono 14 da Grã-Bretanha, Suíça e Estados Unidos calcularam que não podia ter mais de oito séculos. Imediatamente os meios de comunicação disseram que se tratava de um falso medieval. O então arcebispo de Turim, cardeal Anastasio Alberto Ballestero, reconheceu diante dos meios de comunicação que a peça não era autêntica. Contudo, muitos cientistas e arqueólogos começaram a suspeitar sobre como alguém, sem que existisse a fotografia, pudesse falsificar no tempo medieval uma imagem com tantos detalhes e que é possível ver tão claramente somente nos negativos das fotos, com tal exatidão anatômica patológica e cultural. Por isso as investigações continuam. O fragmento do Santo Sudário que foi utilizado para este estudo é muito pequeno. Foi recortado do canto superior que foi remendado e tocado por milhares de pessoas quando as exposições eram feitas sem nenhum tipo de proteção entre os séculos XIV e XIX. Por isso alguns pensam que os resultados desses estudos foram dados porque estavam muito contaminados.

14) Outros dizem que se trata de uma obra de arte.
–Impossível. Em 1978, foi realizado um rigoroso exame do corpo, os braços e o tórax onde se comprova que não foi usado nenhum tipo de pigmento para pintar o Santo Sudário. Ao contrário, as fibras simplesmente parecem descoloradas, como ocorre com um jornal quando se expõe à luz do sol. As aparentes manchas de sangue não apresentam nenhum pigmento diferente. Durante a análise se chegou à conclusão de que se trata de sangue real.

15) O que demonstra que este sudário estava em Jerusalém?
–Nos estudos realizados, foram encontradas partículas de poeira que incluem grãos de pólen de dois mil anos de idade de uma planta local de Jerusalém. Restos de pólen deste tipo também aparecem em alguns fósseis que foram encontrados no Mar Morto. Graças a outros tipos de grãos de pólen foi demonstrado o percurso que o Santo Sudário fez chegar até Turim.

16) Se sempre foi tão importante o Santo Sudário, existem documentos históricos que se referem a ele?
–Sim, muitos. Foquemos em um: há um manuscrito que se chamaCodex Prey. Está datado entre 1192-1195. Tem cinco ilustrações, que representam a crucificação, o declínio da cruz, a unção do corpo de Cristo na sepultura e Cristo ressuscitado. As ilustrações mostram um lençol em escala real, e com proporções idênticas ao Santo Sudário. O corpo de Jesus aparece completamente desnudo, como no Santo Sudário, algo insólito em um desenho do século XII e na mesma posição em que aparece o Santo Sudário. Algo muito curioso é que o tecido do manto que envolveu Jesus se apresenta no formato de espinha de peixe, muito pouco frequente nessa época. Apesar de que o desenho seja rudimentar, não deixa escapar esse detalhe. O desenho apresenta também os mesmos buracos que se formaram neste Sudário antes do incêndio de 1532.

TURIM, segunda-feira, 7 de junho de 2010



segunda-feira, 10 de maio de 2010

Oração oficial aprovada pela Conferência Episcopal da África do Sul para o Mundial de Futebol 2010.

Deus todo poderoso, criador de todas as coisas,
enquanto pessoas de todas as nações se congregam,
com paixão e entusiasmo para a Copa do Mundo de Futebol 2010,
que nós, sul-africanos, possamos ser bons anfitriões,
que nossos visitantes sejam hóspedes bem-vindos
e que os jogadores de todos os times sejam abençoados
com um bom espírito esportivo e com a saúde.
Que teu Espírito de equidade, justiça e paz
prevaleça entre os jogadores e participantes.
Que possam contribuir, cada qual à sua maneira,
de forma positiva para a prevenção, o controle e a luta
contra o crime e a corrupção, o vandalismo de qualquer tipo,
a exploração e o abuso de todos os mais vulneráveis.
Que aqueles que estarão longe de suas casas e de suas famílias
encontrem muita alegria por ocasião da celebração
de belos jogos de futebol e do belo jogo da vida
conforme Teu plano para o bem comum de todos.
Amém.

O casamento não é mais que um.

Professor de Antropologia no Centro Universitário Vilanova (Universidade Complutense de Madri) e capelão, José Pedro Manglano (www.manglano.org) é doutor em filosofia e combina seu trabalho sacerdotal com cursos, palestras e com a direção do Planeta Testimonio. Manglano é membro do Conselho Assessor do Observatório para a Liberdade Religiosa e de Consciências (www.libertadreligiosa.es).

Quantos casamentos existem?
Manglano: Não existe mais que um casamento. Não podemos esquecer que só se casa quem se casa. Ninguém casa! Quando fazem o ato livre de entrega total ao seu ser masculino e feminino, geram uma relação particular que chamamos "matrimônio". Consiste em uma união orgânica, de modo que dois formam "uma só carne". Isso - insisto - só pode fazer quem se casa. Só eles fundam ou criam um novo matrimônio.
Portanto, não há um matrimônio civil e outro religioso. Não. Isso são instâncias que reconhecem ou não o matrimônio, o único matrimônio. O Estado diz: "Se querem que eu os reconheça como matrimônio, se querem que minha legislação sobre o matrimônio se aplique, Eu - Estado - exijo seu consentimento diante de um funcionário, com tantas testemunhas, para preencher esse formulário...e o que for", a fim de estabelecer pela autoridade civil. Falamos então de um casal que realizou um casamento civil. Também a Igreja, para reconhecer aos cristãos seu matrimônio, pode exigir algumas formalidades a fim de começá-lo. Então falamos de casamento religioso, mas é o único matrimônio.

A aliança, o arroz, dotes... Conte-me: de onde surge tudo isso?
Manglano: Tudo isso? Impossível. Cada uma dessas tradições se formam em um lugar e momento determinado, se configura pouco a pouco, têm raízes também em outros lugares... Trata-se de expressões de linguagem simbólicas. Isto é, nas realidades abstratas ou espirituais - como pode ser o desejo de prosperidade, o desejo de descendência, a pertença de um ao outro...- se pode expressar e manifestar de maneira física, corporal e material. Os homens necessitam fazê-lo. Estes símbolos e rituais são profundamente humanos. Convém conhecer seu sentido e realizá-los com autenticidade. Do contrário, se convertem em formalismos ou em elementos ornamentais, que terminam por afogar com liturgias cheias de vazio.

O matrimônio é um sacramento de dois, enquanto os outros sacramentos são "individuais". Por que é assim?
Manglano. Efetivamente, são dois que "sofrem" a ação do Espírito de Deus, ação que faz de ambos uma só carne. Poderíamos falar que a ação transformadora que opera esses sacramentos é a de realizar uma unidade, uma comunhão total de vida e amor.A partir de seu ato livre por decidirem se unir, o Espírito constitui uma comunhão que a liberdade de ambos deverá realizar progressivamente em suas vidas. É um sacramento de dois no sentido de que antes são dois e é um sacramento de um no sentido que depois são um.

O matrimônio... se descobre ou se cria?
Manglano: Parece-me que essa é a questão moderna mais interessante. Em um século XX marcado pela filosofia da suspeita - suspeita antes de tudo que parece imposta ao homem -, decidimos reinventar o matrimônio. Levamos cinquenta anos experimentando, afirmando: ‘o matrimônio significa que os casais se amam, e ninguém tem que dizer como viver, nem ditar regras que rompam a espontaneidade livre da relação". A revista Time publicou recentemente que a última pesquisa do Pew Reserarch Center concluía que os jovens do milênio - quem tem 18 anos - resultam em algo convencional: 52% deles marcam como primeiro objetivo ser um pai exemplar e ter um matrimônio estável e fiel. É visível que os inventos têm gerado mais dor que felicidade. Poderíamos dizer que o matrimonio institucional - por contrapor ao matrimônio a la carte, fabricada pelo casal - segue sendo o ideal. Parece-me interessante estudar essa questão em diálogo com as letras das canções de Joaquín Sabina. Ele afirma que acreditava se tratar de estrelas e resultaram ser tubos de néon; isso é, que não se trata de um mistério mas algo de fabricação cultural. Contudo, estou convencido que o matrimônio, longe de inventá-lo, nos inventa. O matrimônio tem seu DNA particular, não estipulado por nada além da verdade do amor conjugal.

Historicamente havia casamentos entre recém nascidos... Melhoramos, não?
Manglano: Melhoramos muito, e também pioramos muito. O matrimônio, em si mesmo, é um modo de vida que faz bem e trás felicidade ao homem. O matrimônio resulta intensamente em um atrativo tal, mas está sempre ameaçado pela maldade do homem. O homem geralmente ataca - sem má intenção, mas ataca - a verdade do matrimônio para manipulá-lo segundo seu interesse. No século VIII o resultado dessa manipulação foi este: quando os missionários cristãos levavam o Evangelho aos povos bárbaros, na Bulgária e em outros povos germânicos encontraram a tradição de casar as crianças apenas recém nascidas. Era uma forma de alcançar as alianças familiares e seus benefícios econômicos ou políticos, adiantando o tempo. O protagonismo do casamento, então, não tinha o amor. Isso só chegou em torno do século XI, precisamente quando a teologia cristã estuda a Trindade e redescobre que Deus é um movimento eterno de amor; portanto, o amor é importante, e nos matrimônios deverá ser respeitado seu papel, seu insubstituível protagonismo. Sim, nessa percepção melhoramos. Mas ao mesmo tempo perdemos outras percepções, como o valor libertador da instituição, ou a necessidade da paciência e o "domínio de si" para realizar com fidelidade e em plenitude o projeto criado, ou o poder destrutivo da anticoncepção...

O senhor afirma que sem vínculos não há liberdade. É uma provocação?
Manglano: Eu gosto. Enquanto não se provoca a razão, o racionalismo nos limita de tal forma que o conhecimento nos afasta da beleza da vida real. Sim, não podemos reduzir os mistérios da existência do homem a fórmulas matemáticas e silogismos a todos os níveis. A verdade dos mistérios humanos, como é o fato de sua liberdade, são sempre paradoxais para a razão. Por esse motivo abordo a questão, de acordo com o método do caso no diálogo com Antoine de Saint-Exupery e sua mulher Consuelo. São duas pessoas ‘libertinas' que esperam que a felicidade lhes proporcione independência e autonomia. Saint-Exupery, como o Pequeno Príncipe criado por ele, viaja por distintos planetas da vida; conhece outras tanta rosas iguais a sua... Consuelo, também de abordagem libertina, sofre pelas ausências de seu marido e as relações que mantém com seus amantes. Saint-Exupery, no final, descobre uma grande verdade: sua rosa é única, nenhuma tem valor, mas sim aquela a quem foi entregue; só quem está cativado encontra sentido para a sua existência; é então quando a raposa lhe ensina que domesticar é estabelecer laços, criar vínculos. Muitos não sabem que o Pequeno Príncipe é uma carta de amor de Antoine a sua mulher, movida por um profundo arrependimento. É assim: se queremos independência, o matrimônio é um mal caminho. Se pretendemos ser felizes, este vínculo com nós mesmos, nos permite sermos livres realizando o projeto concreto que somos. Sendo mais intensamente esposo, sou mais livre, sendo mais inteira e elegantemente esposa, sou mais livre. A vida diz que é assim, e a razão diz que é o mais sensato... Assim são os mistérios humanos.

ROMA, DOMINGO, 9 de maio de 2010

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Família: Mães, colaboradoras especiais de Deus

Em maio, nossas atenções voltam-se naturalmente para a celebração do Dia das Mães. A data e suas comemorações são excelente oportunidade para fecundas reflexões em torno da vocação de nossas mães. A poetisa e filósofa alemã Gertrud von Le Fort aponta para a altíssima e sublime missão que o próprio Deus concedeu a elas: “Quando Deus tem o seu altar no coração da mãe, a casa toda se torna seu templo!”

Essa convicção ganha mais sentido quando a associamos à história de tantas mães que, nestes dois milênios de cristianismo, educaram grandes santos. Que o digam as mães de Santo Agostinho, de Santa Luzia, de São Sebastião, de São João Bosco e as mães de tantos santos e santas, ou de verdadeiros cristãos e cristãs que dignificaram a história da Igreja.

Missão na família e na sociedade

O Documento de Aparecida (456) destaca a singular missão das mães na família e na sociedade: “É urgente valorizar a maternidade como missão excelente das mulheres. Isso não se opõe a seu desenvolvimento profissional e ao exercício de todas as suas dimensões, o que permite serem fiéis ao plano original de Deus que dá ao casal humano, de forma conjunta, a missão de melhorar a terra. A mulher é insubstituível no lar, na educação dos filhos e na transmissão da fé. Mas isso não exclui a necessidade de sua participação ativa na construção da sociedade. Para isso, é necessário propiciar uma formação integral de maneira que as mulheres possam cumprir sua missão na família e na sociedade”.

Em seguida, o mesmo Documento (457) aponta para o “ministério” da mulher-mãe a serviço da vida: “A Igreja é chamada a compartilhar, orientar e acompanhar projetos de promoção da mulher com organismos sociais já existentes, reconhecendo o ministério essencial e espiritual que a mulher leva em suas entranhas: receber a vida, acolhê-la, alimentá-la, dá-la à luz, sustentá-la, acompanhá-la e desenvolver seu ser mulher, criando espaços habitáveis de comunidade e comunhão. A maternidade não é uma realidade exclusivamente biológica, mas se expressa de diversas maneiras. A vocação materna se cumpre através de muitas formas de amor, compreensão e serviço aos demais. A dimensão maternal também se concretiza, por exemplo, na adoção de crianças, oferecendo-lhes proteção e lar”.

Especial colaboradora de Deus

Procriar filhos é um fato que se encontra em toda a escala animal. A maternidade vai muito além do fenômeno biológico, enfatizou Aparecida. É a sua dimensão espiritual que lhe dá a grandeza plena; através dela, a mãe se torna especial colaboradora de Deus, tanto na obra da criação quanto da salvação.

Lúcia Jordão Villela, num de seus livros – O assunto é mulher – fala dessa maternidade espiritual que sobrepuja a maternidade física. Que o digam as “madres” dos colégios religiosos (nos quais se formaram gerações e gerações), além de outras grandes educadoras, e tantas mulheres que nunca se casaram, não tiveram filhos de sua carne, e são MÃES admiráveis na ordem do espírito e do coração. Quantas tias, quantas catequistas, sendo mais mães desses filhos do que as próprias mães que os geraram! Quantas jovens missionárias de hoje, corajosas pioneiras dessa nova forma de irradiação da mulher, vivendo em comunidades no meio do povo, nas favelas das grandes cidades ou nas comunidades do interior, se inscrevem também nessa linha de generosa doação de vida, apontando para seus filhos “na ordem do espírito e do coração”, os valores e o verdadeiro sentido da vida!

Maternidade física e espiritual

A maternidade, física e espiritual, comporta alegrias, responsabilidades e muitos sacrifícios. A mãe, por vocação e missão, é chamada à constante doação e renúncia de si própria. Não doação e renúncia que a diminuem, mas que engrandecem e tornam mais plena e realizada a sua vida de mãe. “Ser mãe é ter tudo e não ter nada. Ser mãe é padecer no paraíso!” – já escrevera o nosso poeta Coelho Neto.

A Igreja tem insistido sempre nessa responsabilidade materna da educação religiosa dos filhos. As mães são sempre as primeiras catequistas de seus filhos. “Os pais são os primeiros e principais educadores, e a família, a primeira escola de virtudes.” (João Paulo II, em Familiaris Consortio, 36.)

Realidade de muitas famílias hoje

O Diretório da Pastoral Familiar (nº 24) pondera: “A dupla jornada de trabalho e o acúmulo de papéis assumidos pela mulher, seja em razão do empobrecimento, seja pela procura de uma realização pessoal, deixam muitas vezes sem a devida assistência as crianças e os adolescentes. A presença da mulher-mãe é fator determinante para um sadio crescimento afetivo e integral do filho. A Igreja tem contribuído para a emancipação e a recuperação da dignidade da mulher, mas ao mesmo tempo sempre tem afirmado que ‘a verdadeira promoção da mulher exige também que seja claramente reconhecido o valor da sua função materna e familiar em confronto com todas as outras tarefas públicas e com todas as outras profissões’ (João Paulo II)”.

Mães, educação e oração

À mãe cabe educar e formar a consciência dos filhos, passar-lhes os princípios éticos e os valores que contam, dar-lhes a retidão e a firmeza, a fim de que possam enfrentar os desafios que a vida vai-lhes oferecer, das mais variadas e surpreendentes maneiras.

Na “escola da mãe”, os meios que mais têm proporcionado resultados são o exemplo de vida e a oração. Oração pelo marido, pelos filhos, pela união da família, oração por todos. A oração é tarefa primordial da mãe. “A oração é a mais poderosa forma de energia que se possa suscitar; uma força tão verdadeira quanto a gravitação universal” – confirma o grande sábio francês, Alexis Carrel, convertido após uma peregrinação a Lourdes. De fato, os primeiros ensinamentos da fé cristã são aprendidos “nos joelhos da mãe e no colo do pai”.

Pe. Sebastião Sant’Ana, SDN
(Belo Horizonte -MG)