quarta-feira, 29 de junho de 2011

Bento XVI celebra 60 anos de ordenação presbiteral e entrega Pálio a 40 arcebispos

O papa Bento XVI preside, na quarta-feira, 29, na Basílica Vaticana, às 9h30 (hora local), a festa de São Pedro e São Paulo. A celebração comemora também os 60 anos de ordenação presbiteral do papa. Durante a missa, Bento XVI fará a imposição do Pálio a 40 arcebispos metropolitanos, entre os quais sete brasileiros: os arcebispos de Salvador (BA), dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, e de Palmas (TO),  dom Pedro Brito Guimarães; os arcebispos das recém-criadas arquidioceses gaúchas de Pelotas, dom Jacinto Bergmann; de Santa Maria, dom Hélio Adelar Rubert, e de Passo Fundo, dom Pedro Ercílio Simon; e os arcebispos eleitos de Brasília (DF), dom Sérgio da Rocha, e de Campo Grande (MS), dom Dimas Lara Barbosa.

O Pálio é uma faixa de lã branca com seis cruzes pretas de seda. É uma insígnia litúrgica de "honra e jurisdição", símbolo do laço particular que une os arcebispos metropolitanos ao Sucessor de Pedro.

A lã usada para confeccionar o Pálio é extraída de dois cordeiros brancos bentos pelo papa em 21 de janeiro, dia de Santa Inês. Esta tradição tem suas raízes no martírio de Santa Inês, adolescente romana, martirizada durante a perseguição de Décio ou de Diocleciano, entre os Séculos III e IV. Com apenas doze anos, Inês não renegou Jesus e, por isso, teve a garganta cortada com uma espada do modo como se matavam os cordeiros.

Confira a lista dos que receberão o Pálio.

1.Dom Antoine Ganyé Jude - Arcebispo de  Cotonou (Benin)
2.Dom Augustine Obiora Akubeze - Arcebispo de  Benin City (Nigéria)
3.Dom Cesare Nosiglia - Arcebispo de  Torino (Itália)
4.Dom Charles Henry Dufour - Arcebispo de  Kingston (Jamaica)
5.Dom Dario de Jesús Monsalve Mejia - Arcebispo de  Cali (Colômbia)
6.Dom Dimas Lara Barbosa - Arcebispo de  Campo Grande (Brasil)
7.Dom Fausto Gabriel Trávez Trávez - Arcebispo de  Quito (Equador)
8.Dom Fernando Natalio Chomali Garib - Arcebispo de  Concepción (Chile)
9.Dom George Stack - Arcebispo de  Cardiff (Gales)
10.Dom Gerard Cyprien Lacroix - Arcebispo de Québec (Canadá)
11.Dom Gonzalo Restrepo Restrepo - Arcebispo de  Manizales (Colômbia)
12.Dom Gustavo Garcia-Siller - Arcebispo de  San Antonio (Estados Unidos)
13.Dom Hélio Adelar Rubert - Arcebispo de Santa Maria (Brasil)
14.Dom Jacinto Bergmann - Arcebispo de Pelotas (Brasil)
15.Dom Jairo Jaramillo Monsalve - Arcebispo de  Barranquilla (Colômbia)
16.Dom James Peter sartain - Arcebispo de  Seattle (Estados Unidos)
17.Dom José Horacio Gómez - Arcebispo de  Los Angeles (Estados Unidos)
18.Dom José Manuel Imbamba - Arcebispo de Saurimo (Angola)
19.Dom José Serofia PALMA - Arcebispo de  Cebu (Filipinas)
20.Dom Juan Alberto Puiggari - Arcebispo de  Paraná (Argentina)
21.Dom Jude Thaddaeus Ruwa’ichi - Arcebispo de  Mwanza (Tanzânia)
22.Dom Luis María Pérez De Onraita Aguirre - Arcebispo de  Malanje (Angola)
23.Dom Marjan Turnšek - Arcebispo de  Maribor (Eslovênia)
24.Dom Murilo Sabastião Ramos Krieger - Arcebispo de  São Salvador da Bahia (Brasil)
25.Dom Oscar Julio Vian Morales - Arcebispo de Guatemala (Guatemala)
26.Dom Paul Stagg Coakley - Arcebispo de  Oklahoma City (Estados Unidos)
27.Dom Paul Yembuado Ouédraogo - Arcebispo de  Bobo-Dioulasso (Burkina Faso)
28.Dom Pedro Brito Guimarães -Arcebispo de  Palmas (Brasil)
29.Dom Pedro Ercílio Simon - Arcebispo de Passo Fundo (Brasil)
30.Dom Pierre Marie Carré - Arcebispo de  Montpellier (França)
31.Dom Rémi Joseph Gustave Sainte-Marie - Arcebispo de  Lilongwe (Malawi)
32.Dom Ricardo Ezzati Andrello - Arcebispo de  Santiago de Chile (Chile)
33.Dom Rubén Salazar Gómez - Arcebispo de  Bogotá (Colômbia)
34.Dom Sergio da Rocha - Arcebispo de Brasilia (Brasil)
35.Dom Sergio Lasam Utleg  - Arcebispo de  Tuguegarao (Filipinas)
36.Dom Thaddeus Cho Hwan-Kil - Arcebispo de  Daegu (Coreia)
37.Dom Thumma Bala - Arcebispo de  Hyderabad (Índia)
38.Dom Vincenzo Bertolone - Arcebispo de  Catanzaro-Squillace (Itália)
39.Dom William Slattery - Arcebispo de Pretoria (África do Sul)
40.Dom Zbigņev Stankevics - Arcebispo de  Riga (Lituânia)

Fonte: CNBB

terça-feira, 28 de junho de 2011

Curso de CantoLitúrgico e Pastoral

Tema -  Canto Litúrgico e Pastoral
Dias   - 26, 27, 28 de Agosto de 2011
Local - Colégio Salete - Barris - Salvador
Palestrantes: Prof. Edes Andrade, Irmã Míria Kolling e D. Gregório Paixão

Lucro Brasil faz consumidor pagar o carro mais caro do mundo

27-06-11) - O Brasil tem o carro mais caro do mundo. Por quê? Os principais argumentos das montadoras para justificar o alto preço do automóvel vendido no Brasil são a alta carga tributária e a baixa escala de produção. Outro vilão seria o alto valor da mão de obra, mas os fabricantes não revelam quanto os salários - e os benefícios sociais - representam no preço final do carro. Muito menos os custos de produção, um segredo protegido por lei. A explicação dos fabricantes para vender no Brasil o carro mais caro do mundo é o chamado Custo Brasil, isto é, a alta carga tributária somada ao custo do capital, que onera a produção. Mas as histórias que você verá a seguir vão mostrar que o grande vilão dos preços é, sim, o Lucro Brasil. Em nenhum país do mundo onde a indústria automobilística tem um peso importante no PIB, o carro custa tão caro para o consumidor.

A indústria culpa também o que chama de Terceira Folha pelo aumento do custo de produção: os gastos com funcionários, que deveriam ser papel do estado, mas que as empresas acabam tendo que assumir como condução, assistência médica e outros benefícios trabalhistas. Com um mercado interno de um milhão de unidades em 1978, as fábricas argumentavam que seria impossível produzir um carro barato. Era preciso aumentar a escala de produção para, assim, baratear os custos dos fornecedores e chegar a um preço final no nível dos demais países produtores.

Pois bem: o Brasil fechou 2010 como o quinto maior produtor de veículos do mundo e como o quarto maior mercado consumidor, com 3,5 milhões de unidades vendidas no mercado interno e uma produção de 3,638 milhões de unidades. Três milhões e meio de carros não seria um volume suficiente para baratear o produto? Quanto será preciso produzir para que o consumidor brasileiro possa comprar um carro com preço equivalente ao dos demais países?

Segundo Cledorvino Belini, presidente da Anfavea, é verdade que a produção aumentou, mas agora ela está distribuída em mais de 20 empresas, de modo que a escala continua baixa. Ele elegeu um novo patamar para que o volume possa propiciar uma redução do preço final: cinco milhões de carros.

A carga tributária caiu

O imposto, o eterno vilão, caiu nos últimos anos. Em 1997, o carro 1.0 pagava 26,2% de impostos, o carro com motor até 100hp recolhia 34,8% (gasolina) e 32,5% (álcool). Para motores mais potentes o imposto era de 36,9% para gasolina e 34,8% a álcool.

Hoje - com os critérios alterados - o carro 1.0 recolhe 27,1%, a faixa de 1.0 a 2.0 paga 30,4% para motor a gasolina e 29,2% para motor a álcool. E na faixa superior, acima de 2.0, o imposto é de 36,4% para carro a gasolina e 33,8% a álcool.

Quer dizer: o carro popular teve um acréscimo de 0,9 ponto percentual na carga tributária, enquanto nas demais categorias o imposto diminuiu: o carro médio a gasolina paga 4,4 pontos percentuais a menos. O imposto da versão álcool/flex caiu de 32,5% para 29,2%. No segmento de luxo, o imposto também caiu: 0,5 ponto no carro e gasolina (de 36.9% para 36,4%) e 1 ponto percentual no álcool/flex.

Enquanto a carga tributária total do País, conforme o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, cresceu de 30,03% no ano 2000 para 35,04% em 2010, o imposto sobre veículo não acompanhou esse aumento.

Isso sem contar as ações do governo, que baixou o IPI (retirou, no caso dos carros 1.0) durante a crise econômica. A política de incentivos durou de dezembro de 2008 a abril de 2010, reduzindo o preço do carro em mais de 5% sem que esse benefício fosse totalmente repassado para o consumidor.

As montadoras têm uma margem de lucro muito maior no Brasil do que em outros países. Uma pesquisa feita pelo banco de investimento Morgan Stanley, da Inglaterra, mostrou que algumas montadoras instaladas no Brasil são responsáveis por boa parte do lucro mundial das suas matrizes e que grande parte desse lucro vem da venda dos carros com aparência fora de estrada. Derivados de carros de passeio comuns, esses carros ganham uma maquiagem e um estilo aventureiro. Alguns têm suspensão elevada, pneus de uso misto, estribos laterais e para choque saliente. Outros têm faróis de milha e, alguns, o estepe na traseira, o que confere uma aparência mais esportiva.

A margem de lucro é três vezes maior que em outros países

O Banco Morgan concluiu que esses carros são altamente lucrativos, têm uma margem muito maior do que a dos carros dos quais são derivados. Os técnicos da instituição calcularam que o custo de produção desses carros, como o CrossFox, da Volks, e o Palio Adventure, da Fiat, é 5 a 7% acima do custo de produção dos modelos dos quais derivam: Fox e Palio Weekend. Mas são vendidos por 10% a 15% a mais.

O Palio Adventure (que tem motor 1.8 e sistema locker), custa R$ 52,5 mil e a versão normal R$ 40,9 mil (motor 1.4), uma diferença de 28,5%. No caso do Doblò (que tem a mesma configuração), a versão Adventure custa 9,3% a mais.

O analista Adam Jonas, responsável pela pesquisa, concluiu que, no geral, a margem de lucro das montadoras no Brasil chega a ser três vezes maior que a de outros países.

O Honda City é um bom exemplo do que ocorre com o preço do carro no Brasil. Fabricado em Sumaré, no interior de São Paulo, ele é vendido no México por R$ 25,8 mil (versão LX). Neste preço está incluído o frete, de R$ 3,5 mil, e a margem de lucro da revenda, em torno de R$ 2 mil. Restam, portanto R$ 20,3 mil.

Adicionando os custos de impostos e distribuição aos R$ 20,3 mil, teremos R$ 16.413,32 de carga tributária (de 29,2%) e R$ 3.979,66 de margem de lucro das concessionárias (10%). A soma dá R$ 40.692,00. Considerando que nos R$ 20,3 mil faturados para o México a montadora já tem a sua margem de lucro, o Lucro Brasil (adicional) é de R$ 15.518,00: R$ 56.210,00 (preço vendido no Brasil) menos R$ 40.692,00.

Isso sem considerar que o carro que vai para o México tem mais equipamentos de série: freios a disco nas quatro rodas com ABS e EBD, airbag duplo, ar-condicionado, vidros, travas e retrovisores elétricos. O motor é o mesmo: 1.5 de 116cv.

Será possível que a montadora tem um lucro adicional de R$ 15,5 mil num carro desses? O que a Honda fala sobre isso? Nada. Consultada, a montadora apenas diz que a empresa não fala sobre o assunto.

Na Argentina, a versão básica, a LX com câmbio manual, airbag duplo e rodas de liga leve de 15 polegadas, custa a partir de US$ 20.100 (R$ 35.600), segundo o Auto Blog.

Já o Hyundai ix35 é vendido na Argentina com o nome de Novo Tucson 2011 por R$ 56 mil, 37% a menos do que o consumidor brasileiro paga por ele: R$ 88 mil.

Porque o mesmo carro é mais barato na Argentina e no Chile?

A ACARA, Associacion de Concessionários de Automotores De La Republica Argentina, divulgou em fevereiro, no congresso dos distribuidores dos Estados Unidos (N.A.D.A), em São Francisco, os valores comercializados do Corolla nos três países. No Brasil o carro custa U$ 37.636,00, na Argentina U$ 21.658,00 e nos EUA U$ 15.450,00.

O consumidor paraguaio paga pelo Kia Soul U$ 18 mil, metade do preço do mesmo carro vendido no Brasil. Ambos vêm da Coreia. Não há imposto que justifique tamanha diferença de preço.
Outro exemplo de causar revolta: o Jetta é vendido no México por R$ 32,5 mil. No Brasil esse carro custa R$ 65,7 mil.
Quer mais? O Gol I-Motion com airbags e ABS fabricado no Brasil é vendido no Chile por R$ 29 mil. Aqui custa R$ 46 mil.
A Volkswagen não explica a diferença de preço entre os dois países. Solicitada pela reportagem, enviou o seguinte comunicado:

As principais razões para a diferença de preços do veículo no Chile e no Brasil podem ser atribuídas à diferença tributária e tarifária entre os dois países e também à variação cambial.

Questionada, a empresa enviou nova explicação:

As condições relacionadas aos contratos de exportação são temas estratégicos e abordados exclusivamente entre as partes envolvidas.

Nenhum dirigente contesta o fato de o carro brasileiro ser caro, mesmo considerando o preço FOB: o custo de produção, sem a carga tributária.

Mas o assunto é tão evitado que até mesmo consultores independentes não arriscam falar, como o nosso entrevistado, um ex-executivo de uma grande montadora, hoje sócio de uma consultoria, e que pediu para não ser identificado.

Ele explicou que no segmento B do mercado, onde estão os carros de entrada, Corsa, Palio, Fiesta, Gol, a margem de lucro não é tão grande, porque as fábricas ganham no volume de venda e na lealdade à marca. Mas nos segmentos superiores o lucro é bem maior.

O que faz a fábrica ter um lucro maior no Brasil do que no México, segundo consultor, é o fato do México ter um mercado mais competitivo.

City é mais barato no México do que no Brasil por causa do drawback

Um dirigente da Honda, ouvido em off, responsabilizou o drawback, para explicar a diferença de preço do City vendido no Brasil e no México. O drawback é a devolução do imposto cobrado pelo Brasil na importação de peças e componentes importados para a produção do carro. Quando esse carro é exportado, o imposto que incidiu sobre esses componentes é devolvido, de forma que o valor base de exportação é menor do que o custo industrial, isto é: o City é exportado para o México por um valor menor do que os R$ 20,3 mil. Mas quanto é o valor dos impostos das peças importadas usadas no City feito em Sumaré? A fonte da Honda não responde, assim como outros dirigentes da indústria se negam a falar do assunto.

Ora, quanto poderá ser o custo dos equipamentos importados no City? Com certeza é menor do que a diferença de preço entre o carro vendido no Brasil e no México (R$ 15 mil).

A propósito, não se deve considerar que o dólar baixo em relação ao real barateou esses componentes?

A conta não bate e as montadoras não ajudam a resolver a equação. O que acontece com o Honda City é apenas um exemplo do que se passa na indústria automobilística. Apesar da grande concorrência, nenhuma das montadoras ousa baixar os preços dos seus produtos. Uma vez estabelecido, ninguém quer abrir mão do apetitoso Lucro Brasil.

Ouvido pela AutoInforme, quando esteve em visita a Manaus, o presidente mundial da Honda, Takanobu Ito, respondeu que, retirando os impostos, o preço do carro do Brasil é mais caro que em outros países porque aqui se pratica um preço mais próximo da realidade. Lá fora é mais sacrificado vender automóveis.

Ele disse que o fator câmbio pesa na composição do preço do carro Brasil, mas lembrou que o que conta é o valor percebido. O que vale é o preço que o mercado paga.

E por que o consumidor brasileiro paga mais do que os outros?

Eu também queria entender - respondeu Takanobu Ito - a verdade é que o Brasil tem um custo de vida muito alto. Até o McDonald aqui é o mais caro do mundo.

Se a moeda for o Big Mac -
confirmou Sérgio Habib, que foi presidente da Citroën e hoje é importador da chinesa JAC - o custo de vida do brasileiro é o mais caro do mundo. O sanduíche custa U$ 3,60 lá e R$ 14,00 aqui. Sérgio Habib investigou o mercado chinês durante um ano e meio à procura por uma marca que pudesse representar no Brasil. E descobriu que o governo chinês não dá subsídio à indústria automobilística; que o salário dos engenheiros e dos operários chineses não é menor do que o dos brasileiros.

Tem muita coisa torta no Brasil - concluiu o empresário, não é o carro. Um galpão na China custa R$ 400,00 o metro quadrado, no Brasil custa R$ 1,2 mil. O frete de Xangai e Pequim custa U$ 160,00 e de São Paulo a Salvador R$ 1,8 mil.

Para o presidente da PSA Peugeot Citroën, Carlos Gomes, os preços dos carros no Brasil são determinados pela Fiat e pela Volkswagen. As demais montadoras seguem o patamar traçado pelas líderes, donas dos maiores volumes de venda e referência do mercado, disse.

Fazendo uma comparação grosseira, ele citou o mercado da moda, talvez o que mais dita preço e o que mais distorce a relação custo e preço:

Me diga, por que a Louis Vuitton deveria baixar os preços das suas bolsas?, questionou.

Ele se refere ao valor percebido pelo cliente. É isso que vale. O preço não tem nada a ver com o custo do produto. Quem define o preço é o mercado, disse um executivo da Mercedes-Benz, para explicar porque o brasileiro paga R$ 265.00,00 por uma ML 350, que nos Estados Unidos custa o equivalente a R$ 75 mil.

Por que baixar o preço se o consumidor paga?,
explicou o executivo.

Em 2003, quando foi lançado, o EcoEsport, da Ford, não tinha concorrente. Era um carro diferente, inusitado. A Ford cobrou caro a exclusividade: segundo informações de uma fonte que tinha grande ligação com a empresa na época, e conhecia os custos do produto, o carro tinha uma margem líquida de US$ 5 mil.

A montadora põe o preço lá em cima. Se colar, colou

Quando um carro não tem concorrente direto, a montadora joga o preço lá pra cima, disse um dirigente do setor. É usual, até, a fábrica lançar o carro a um preço acima do pretendido, para tentar posicionar o produto num patamar mais alto. Se colar, colou. Caso contrário, passa a dar bônus à concessionárias até reposicionar o modelo num preço que o consumidor está disposto a pagar.

Um exemplo recente revela esse comportamento do mercado. A Kia fez um pedido à matriz coreana de dois mil Sportage por mês, um volume que, segundo seus dirigentes, o mercado brasileiro poderia absorver. E já tinha fixado o preço: R$ 75 mil. Às vésperas do lançamento soube que a cota para o Brasil tinha sido limitada a mil unidades. A importadora, então, reposicionou o carro num patamar superior, para R$ 86 mil. E, como já foi dito aqui: pra que vender por R$ 75 mil se tem fila de espera pra comprar por R$ 86 mil? A versão com câmbio automático, vendida a R$ 93 mil, tem fila de espera e seu preço sobe para R$ 100 mil no mercado paralelo.

Cledorvino Belini, que também é presidente da Fiat Automóveis e membro do Conselho Mundial do Grupo Fiat, responsabiliza os custos dos insumos pelo alto preço do carro feito no Brasil. Disse que o aço custa 50% mais caro no Brasil em relação a outros países e que a energia no País é uma das mais caras do mundo.

A Anfavea está fazendo um Estudo de Competitividade para mostrar ao governo o que considera uma injusta concorrência da indústria instalada no Brasil em relação aos importadores.

Os fabricantes consideram que o custo dos insumos encarece e prejudica a competitividade da indústria nacional. O aço comprado no Brasil é 40% mais caro do que o importado da China, que usa minério de ferro brasileiro para a produção, revelou Belini. Ele apontou também os custos com a logística como um problema da indústria nacional e criticou a oneração do capital. É preciso que o governo desonere o capital nos três setores: cadeia produtiva, na infraestrutura e na exportação de tributos, disse.

Com a crise, o setor mostrou que tem (muita) gordura pra queimar. O preço de alguns carros baixou de R$ 100 mil para R$ 80 mil. Carros mais caros tiveram descontos ainda maiores.

São comuns descontos de R$ 5 mil, 10 mil. Como isso é possível se não há uma margem tão elástica pra trabalhar?

A GM vendeu um lote do Corsa Classic com desconto de 35% para uma locadora paulista, segundo um executivo da locadora em questão. O preço unitário foi de R$ 19 mil!

As montadoras tradicionais tentam evitar o óbvio, que é a perda de participação para as novas montadoras, disse José Carlos Gandini, presidente da Kia e da Abeiva, a associação dos importadores de veículos. O dólar é o mesmo pra todo mundo. As montadoras também compram componentes lá fora, e muito. Além disso, os importados já pagam uma alíquota de 35%, por isso não se trata de uma concorrência desleal, ao contrário, as grandes montadoras não querem é abrir mão da margem de lucro.

Mini no tamanho, big no preço

Mini, Fiat 500, Smart são conceitos diferentes de um carro comum: embora menores do que os carros da categoria dos pequenos, eles proporcionam mais conforto, sem contar o cuidado e o requinte com que são construídos. São carros chiques, equipados, destinados a um público que quer se exibir, que quer estar na moda. Que paga R$ 60 mil por um carro menor do que o Celta que custa R$ 30 mil e já é caro.

Onde estão os R$ 30 mil que o consumidor está pagando a mais pelo Smart e o Cinquecento e os R$ 70 mil a mais pelo Mini Cooper?

A Mercedes-Benz, importadora do Smart, fez as contas a nosso pedido dos acessórios do minicarro. Ele tem quatro airbags, ar-condicionado digital, freios ABS com EBD, controle de tração e controle de estabilidade. Segundo a empresa, o custo desse pacote seria em torno de R$ 20 mil, considerando os preços de equipamentos para a linha Mercedes, uma vez que o Smart já vem completo e não dispõe dos preços desses equipamentos separados.

Mesmo considerando esses preços ainda não se justifica os R$ 62 mil para um carro que leva apenas duas pessoas.

A Fiat vende o Cinquencento por R$ 62 mil, exatamente, e não por acaso, o mesmo preço do Smart. O carro tem sete airbags, banco de couro, ar-condicionado digital, teto solar, controle de tração, mas é menor que o Celta. Esse pacote custaria, somando os valores dos equipamentos, conforme preços divulgados pela Fiat, R$ 24 mil. Portanto, no preço cobrado, de R$ 62 mil, tem uma margem de lucro muito maior do que a de um carro comum.

E quem comprar o minúsculo Mini Cooper vai pagar a pequena fortuna de R$ 105 mil.

Claro que tamanho não é documento, especialmente quando se fala de carro. Você poderia dizer que o Ferrari é do tamanho de uma Kombi. Mas o fato é que as montadoras posicionam seus produtos num determinado patamar sem levar em conta o tamanho, o tipo de uso ou o custo do produto, mas apenas o preço que o mercado paga, optando por vender mais caro em vez de priorizar o volume, ganhando na margem de lucro.

Essa política pode ser válida para uma bolsa da Louis Vuitton, um produto supérfluo destinado a uma pequena parcela da elite da sociedade, ou mesmo para uma Ferrari, pra não sair do mundo do automóvel. Mas não deveria ser para um carro comum.

Além disso, existem exemplos de carro muito bem equipado a preços bem mais baixos. O chinês QQ, da Chery, vem a preço de popular mesmo recheado de equipamentos, alguns deles inexistentes mesmo em carros de categoria superior, como airbag duplo e ABS, além de CD Player, sensor de estacionamento. O carro custa R$ 22.990,00, isso porque o importador sofreu pressão das concessionárias para não baixar o preço ainda mais. A ideia original - disse o presidente da Chery no Brasil, Luiz Curi - era vender o QQ por R$ 19,9 mil. Segundo Curi, o preço do QQ poderá chegar a menos de R$ 20 mil na versão 1.0 flex, que chega no ano que vem. Hoje o carro tem motor 1.1 litro e por isso recolhe o dobro do IPI do 1000cc, ou 13%, isso além dos 35% de Imposto Importação.

As fábricas reduzem os custos com o aumento da produção, espremem os fornecedores, que reclamam das margens limitadas, o governo reduz imposto, como fez durante a crise, as vendas explodem e o Brasil se torna o quarto maior mercado do mundo.

E o Lucro Brasil permanece inalterado, obrigando o consumidor a comprar o carro mais caro do mundo.

Joel Leite - email: joelleite@autoinforme.com.br

Colaboraram: Ademir Gonçalves e Luiz Cipolli

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Seminário Regional de Educação Superior

A CONTEE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino), com o apoio do SINPRO-BA, promoverá em Salvador, nos dias 29 e 30 de abril, o I Seminário Regional de Educação Superior para discutir as dificuldades enfrentadas pelos professores desse segmento. O encontro será no  Hotel Vilamar, em Amaralina. É importante a participação não só dos companheiros do Ensino Superior, mas de toda a categoria!

 DIAS: 29 e 30 de abril de 2011.
LOCAL: HOTEL VILAMAR - Avenida Amaralina, 111 – Amaralina, Salvador - BA, (71) 3248-4244.
HORÁRIO: início 19 horas do dia 29 de abril e término às 17 horas do dia 30 de abril.
PÚBLICO: Trabalhadores em Educação Superior - professores e técnicos administrativos -.
INSCRIÇÕES: Deverão ser realizadas enviando o nome do  (a) interessado (a) para o e-mail da CONTEE (
contee@contee.org.br), IMPRETERIVELMENTE, ATÉ O DIA 28 DE ABRIL.
 PROGRAMAÇÃO Dia 29 de Abril
19h:
Recepção dos participantes e credenciamento
19h 30min: Mesa de Abertura: CONTEE/ CUT/ CTB/ SINAES-BA/ SINPRO-BA
20h: Palestra “Os Rumos do Ensino Superior – Qualificação da Educação ou Lucros”
Coordenadora Geral da CONTEE – Madalena Guasco Peixoto
Dia 30 de Abril
09h às 11h 30min
: Mesas Redondas
  • Mesa Redonda 1 - Cenário Regional dos trabalhadores do Ensino Superior
    Prof. Cristina (Sinpro-BA  e Direção Plena CONTEE), e Sr. Alberto Presidente do Sinaes-BA
  • Mesa Redonda 2 - Educação Superior no Plano Nacional de Educação 2011/2020.
    Prof. Wanderley Quedo (Presidente do Sinpro-Rio e Direção Plena da Contee)
  • Mesa Redonda 3 -  Cenário Político e Econômico do Mundo do Trabalho – a mercantilização e a e financeirização da educação superior
    Profª. Adércia B.  Hostin – Presidente do Sinpro Itajaí e Região e  Secretária de Assuntos Educacionais da CONTEE
11h 30min - Debate
12h 30min - Almoço
14h:  Ensino Superior e o Plano de Carreira
José Roberto Torres Machado (Secretário de Finanças da CONTEE)
14h 30: Debate
15h 45: Aprovação dos encaminhamentos da Região Nordeste para o Seminário Nacional de Ensino Superior/CONTEE
16h 30: Retirada de delegados para o Seminário Nacional da Educação Superior/CONTEE
17h: Encerramento

Certo de contarmos com a participação de todos (as), colocamo-nos à disposição para quaisquer outros esclarecimentos e apresentamos nossas,

Fraternas Saudações Sindicais.

Manoel Henrique da Silva Filho
Coordenador Regional Nordeste (CONTEE)

Senadores aprovam aumento na frequência mínima nas escolas

 
 

A frequência mínima para aprovação dos alunos da educação básica deverá subir dos atuais 75% para 80% do total de horas letivas. A elevação consta no projeto de lei PLS 385/07, de autoria do então senador Wilson Matos, que foi aprovado nesta terça-feira pela Comissão de Educação do Senado Federal, em Brasília (DF). As informações são da Agência Senado. Segundo o texto aprovado, "o controle de frequência fica a cargo da escola, conforme o disposto no seu regimento e nas normas do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de oitenta por cento do total de horas letivas para aprovação".
O projeto original estabelecia o aumento de 75% para 85% do total de horas letivas, percentual que, segundo o relator Inácio Arruda (PCdoB-CE), poderia impor ao estudante trabalhador um "entrave intransponível à sua formação pessoal". O projeto será examinado ainda em turno suplementar - como anunciado durante a reunião pelo presidente da comissão, senador Roberto Requião (PMDB-PR) - por ter sido aprovado na forma de um substitutivo (houve mudança no projeto original).

Portal Terra
Foto: José Cruz/Agência Senado

sábado, 23 de abril de 2011

Papa Bento XVI preside Via Sacra no Coliseu de Roma

O Papa Bento XVI presidiu nesta sexta-feira, no Coliseu de Roma, a tradicional Via Sacra, que lembra o calvário de Cristo até sua crucificação, e que este ano foi dedicada à crise do homem moderno. Como ocorreu no ano passado, o Papa, que fez 84 anos no dia 16 de abril, acompanhou da colina do Palatino boa parte da Via Sacra, sem percorrer a pé as 14 estações. No final, Bento XVI se uniu à cerimônia, mas não carregou a cruz. A Via Sacra teve início às 21H15 local (17H15 Brasília) e este ano durou menos de duas horas. O Papa encarregou a redação das meditações lidas durante as 14 estações à religiosa Maria Rita Piccione, presidente da Fundação das Freiras Augustinas. Esta foi a primeira vez que Bento XVI entregou a redação das meditações da Via Sacra a uma mulher.

As meditações foram inspiradas no pensamento de Santo Agostinho (354-430), uma das referências de Bento XVI, que se graduou como teólogo, em 1953, com uma tese sobre a doutrina da Igreja segundo este santo. O texto denuncia "a perseguição contra a Igreja de ontem e de hoje", que "mata cristãos em nome de um Deus estranho ao amor, e que ataca a dignidade com mentiras e palavras arrogantes". "É a hora das trevas (...) as várias máscaras da mentira enganam a verdade e as ilusões do sucesso afogam o apelo íntimo à honestidade", destaca. Este ano, a cruz foi carregada nas 14 estações do calvário por uma família romana, de cinco filhos, incluindo gêmeos, outra família, etíope, e uma menina egípcia. A maior parte da cerimônia foi oficiada pelo cardeal italiano Agostino Vallini, vigário de Roma. A Via Sacra foi acompanhada por numerosos peregrinos, que carregavam tochas, e transmitida pela TV para vários países do planeta.

Na noite de hoje, o Papa presidirá na Basílica de São Pedro a vigília de Páscoa, antes da missa do domingo pascal e da tradicional benção "urbi et orbi". Mais cedo nesta sexta-feira, Bento XVI deu uma inédita entrevista à TV, na qual fez um apelo às autoridades iraquianas a ajudar os cristãos, ao mesmo tempo em que exortou os marfinenses a renunciar à violência. Do seu escritório no Vaticano, o Papa respondeu na TV estatal italiana RAI a sete questões formuladas por pessoas de países e meios diversos, sob a forma de um talk-show, que contou com intervenções de teólogos e fiéis, ouvidos nas ruas de Roma. Num dos momentos mais emocionantes, Bento XVI respondeu a uma menina japonesa de sete anos, que sentiu "a casa tremer muito" durante o terremoto de 11 de março no Japão e que perguntou a ele por que as crianças tinham de sofrer.

"Querida Elena, cumprimento-a de todo o coração. Também eu me pergunto: por que isso aconteceu? Por que vocês têm de sofrer tanto, enquanto outros vivem comodamente?", respondeu o Papa. "Não temos resposta, mas sabemos que Jesus sofreu como vocês, inocentes. Isso me parece muito importante, apesar de não termos respostas, mas Deus está ao seu lado", disse o Pontífice à menina. Em resposta a sete estudantes iraquianos - quatro mulheres e três homens, Bento XVI disse que "as instituições" no Iraque e "todos aqueles" que tenham realmente possibilidade" devem "fazer alguma coisa" para ajudar os cristãos, ameaçados por islamitas a emigrar - evocando a série de atentados, como os de 31 de outubro passado, assumido pela Al-Qaeda, que fez 46 mortos, na catedral siríaca católica de Bagdá. Bento XVI também pediu "a todas as partes" envolvidas no conflito na Costa do Marfim "a renunciar à violência e buscar o caminho da paz". Ele respondeu, assim, a uma pergunta feita por uma mulher muçulmana da Costa do Marfim, Bintu, que se lamentava do conflito existente há anos nesse país africano.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Liturgia da Palavra: O Tríduo Sagrado da Páscoa

Por Dom Emanuele Bargellini, Prior do Mosteiro da Transfiguração

O TRÍDUO SAGRADO DA PÁSCOA: JESUS MORTO, SEPULTADO, RESSUSCITADO 

Um olhar de conjunto

Ó abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Como são insondáveis seus juízos e impenetráveis seus caminhos!... Porque tudo é dele, por ele e para ele. A ele a glória pelos séculos! Amém” (Rm 11, 33.36).

A expressão de maravilha e de louvor por parte do apóstolo diante do mistério da aliança irrevogável de Deus com Israel - aliança que vai além da sua infidelidade - e do chamado dos pagãos a participarem da sua plena realização na morte e ressurreição de Cristo, bem interpreta os sentidos mais profundos da Igreja ao celebrar o solene Tríduo Pascal. Este evento Pascal é a fonte divina e perene da sua vida, assim como do caminho espiritual desenvolvido ao longo do ano litúrgico. A Igreja nos convida a entrar em atitude de maravilha e adoração. O Tríduo Sagrado inicia-se na tarde da quinta-feira santa, com a celebração da Ceia do Senhor, e acaba com as segundas Vésperas do dia da Páscoa. A Igreja contempla com fé e amor e celebra o mistério único e indivisível do seu Senhor Morto (Sexta-feira santa), Sepultado (Sábado santo) e Ressuscitado (Vigília e dia de Páscoa).

Com o Tríduo Pascal chegamos ao coração da história inteira e ao escopo da própria criação. A luz Pascal deste Santo Tríduo ilumina a vida de Jesus, sua missão desde seu nascimento e o projeto salvífico de Deus no seu desenvolvimento histórico: desde a criação e através das relações especiais da aliança com os patriarcas e os profetas, testemunhadas pelo Antigo Testamento. Na morte e ressurreição de Jesus e na efusão do Espírito, aquele projeto se revela em todo seu sentido profundo, e inicia a etapa radicalmente nova desta história que caminha rumo a seu cumprimento no fim dos tempos (cf. Ef 1,1-14; Cl 1, 15-20). As pessoas que foram regeneradas na fé e no amor pelo batismo receberam as potencialidades e a vocação a viver como homens e mulheres “partícipes da vida do Ressuscitado”, partilhando a mesma energia divina de Cristo no Espírito (cf. Ef 2, 4-8; Cl 3, 1-4: 5-11).

As celebrações do Tríduo são particularmente ricas de gestos, movimentos, Palavra proclamada e comentada, cantos, silêncios. Tudo converge para nos aproximarmos com coração aberto e íntima devoção ao mistério da morte e da ressurreição de Cristo e da nossa participação a ele, por graça. O que mais nos surpreende é descobrir, mais uma vez, o amor gratuito com que Deus nos amou, e fica nos amando, até doar seu próprio Filho por nós e nele doar-nos sua própria vida: “para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16), como nos lembra o evangelista. Surpreendidos ainda mais pelo feito que “não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele quem nos amou e enviou-nos seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados” (1 Jo 4, 10).

O extremo esvaziamento do Verbo encarnado, na morte de cruz e no silêncio do sepulcro, abre o caminho para uma nova história, em prol de cada um e do mundo inteiro. “Batizados em Cristo Jesus, é na sua morte que fomos batizados. Portanto pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova” (Rm 6, 3-4). Celebramos em maneira indivisível a Páscoa pessoal de Jesus e a Páscoa de seu corpo vivo que é a Igreja e cada um de nós, a caminho na esperança da renovação plena e definitiva. Os três dias do Tríduo sagrado constituem a trama articulada e unitária do único e mesmo mistério pascal de Jesus e da Igreja. Cada dia, com a especificidade da sua linguagem ritual, põe a tônica sobre uma etapa ou aspecto do caminho pascal de Jesus. A forma narrativa dos acontecimentos destaca que a ação de Deus em Jesus se insere na realidade humana com suas aberturas e resistências, até a dramática recusa do seu amor. Mas o amor de Deus não se deixa vencer pelo mal e o pecado: “Antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13, 1). Cada um dos três dias nos proporciona a oportunidade de nos mergulharmos em diferentes aspectos do mistério pascal. Por enquanto, achei mais conveniente oferecer ao início algumas sugestões de caráter geral. Talvez elas possam ajudar a colocar e viver cada celebração na visão unitária do mistério pascal, assim como a Igreja o contempla e no-lo transmite através das celebrações. De cada dia irei destacar um ou outro elemento, útil para evidenciar a continuidade interior do Tríduo.
           
A Quinta-feira santa: “Jesus... tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. A missa do Crisma, presidida na manhã pelo bispo em sua catedral, com a participação do clero e do povo, encerra a quaresma e prepara os Óleos santos finalizados à celebração da iniciação cristã - especialmente durante a grande vigília pascal - e a da unção dos enfermos. Os textos bíblicos (Is 61, 1-9; Ap 1,5-8; Lc 4, 16-21), assim como as orações e o magnífico prefácio, destacam o sacerdócio de Jesus e a participação do povo cristão ao sacerdócio dele no Espírito Santo, em força do batismo. É o coração do dom da páscoa e da vida nova de todo o povo de Deus. A Ceia do Senhor, na tarde (Ex 12, 1-14; 1 Cor 11, 23-26; Jo 13, 1-15), abre o Tríduo, celebrando antecipadamente na forma sacramental da eucaristia o dom do corpo e do sangue do Senhor, que a Igreja guarda como memória viva e fonte inesgotável da sua vida no tempo. A Igreja está certa de que “todas as vezes que celebramos este sacrifício em memória do vosso Filho, torna-se presente a nossa redenção” (Oração sobre as oferendas). O gesto de amor e de humildade com que Jesus, o Mestre e o Senhor, lava os pés aos discípulos, determina o horizonte divino das relações recíprocas entre os discípulos, e deles com qualquer pessoa, em toda situação e em todo tempo. Cada sofrimento partilhado e cada gesto de solidariedade faz Jesus lavar os pés e cumprir seu mandamento.

A Sexta-feira santa: celebração da Paixão do Senhor            
No centro da celebração está o evento e o mistério da cruz, proclamado nas Escrituras (Is 52,13-53,12;  Jo 18,1-19,42), honrado com a adoração e o beijo da cruz por parte da a assembléia, reconhecido como intercessão permanente junto do Pai (Oração universal), interiorizado na comunhão. A cruz é tragédia em nível humano, porém a fé a proclama como revelação suprema do amor de Jesus e início da vida nova que dele brota. Neste dia a Igreja fica concentrada diretamente sobre a contemplação silenciosa e adorante do evento da crucifixão. Não celebra a memória sacramental da morte de Cristo com a Missa. A cruz é o “eixo do mundo”, diziam os Padres da Igreja, pois nela se manifesta o extremo compromisso de Deus em favor do mundo. Este amor divino é o que sustenta o mundo. O estilo de Deus é loucura para os homens (cf. 1 Cor 3,18 -25), como o silêncio da morte ignominiosa na cruz. Porém este silêncio se torna o grito mais alto que testemunha seu amor sem limite. O grito sofrido e confiante de Jesus, “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?(Mc 15,34; Sal 21, 2), assume em si mesmo o grito dos crucificados de todos os tempos, e abre para eles a esperança, pois “por isso Deus o exaltou e lhe concedeu um título (Kyrios- Senhor) que é superior a todo título”, e o fez raiz e modelo de vida nova entre os irmãos (Fil 2, 6-9).

O perdão invocado sobre os algozes: “Pai, perdoa-lhes: não sabem o que fazem” (Lc 23,34) e a entrega confiante ao Pai: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (cf. Sal 31,6 - Lc 23,46), abrem caminho definitivo para a comunhão renovada com Deus, abolindo todo impedimento ou outra mediação: “Jesus, porém, tornado a dar um grande grito, entregou o espírito. Nisso, o véu do templo se rasgou em duas partes, de cima a baixo, a terra tremeu e as rochas se fenderam” (Mt 27,50 -51). A Igreja hoje se reveste do silêncio mais do que de palavras. A celebração da Paixão se abre e acaba com a assembléia em silêncio! Ela fica olhando intensamente o esposo e cruza seu olhar com o olhar compassivo dele, que lhe transmite toda a força do seu amor. É do encontro deste recíproco olhar no amor que nascem os namorados e as namoradas de Cristo, os que chegam a doar a própria vida por ele e como ele. Nas salas cinematográficas do Brasil está estreando nestes dias o filme “Homens e Deuses” (Des Hommes et des Dieux), do diretor francês Xavier Beauvois. Narra a história simples e extraordinária dos sete monges trapistas mortos em 1997, em maneira ainda misteriosa por mão violenta, no mosteiro de Nossa Senhora do Atlas, na Argélia. Testemunhas de amor gratuito e sem limites entre si e com os habitantes muçulmanos da região, impelidos pela profunda relação pessoal de cada um com Cristo, única razão para ficarem solidários entre si e com os irmãos muçulmanos, se necessário até o martírio, como de fato aconteceu. É esta relação pessoal no amor que faz Cristo crucificado e sua páscoa tornar-se contemporâneos para com cada um de nós. 

Na sua fé a Igreja contempla o mistério da cruz na sua integridade, deixando-se guiar pela visão teológica da Paixão escrita por João. Ela faz da cruz o “evento de salvação”, da elevação violenta de Jesus na cruz a sua glorificação, e do “crucificado” o “Senhor” que dá a vida, derramando o Espírito criador (cf. Jo 19,30). A arte da Igreja, até o séc. 13, teve a ousadia de representar Jesus crucificado, como o Vivente, o Rei vitorioso e o Sacerdote do Pai. Do seu lado transpassado nasce o admirável sacramento da Igreja (cf. Sacrosanctum Concilium, n. 5). A religiosidade popular do Brasil, herdeira da religiosidade popular de Portugal colonial, tem ainda dificuldade de integrar a cruz na ressurreição. Deixando-se guiar pela liturgia, existe bastante espaço para valorizar a sensibilidade do povo brasileiro para o Cristo sofredor, tão próximo à sua história e, ao mesmo tempo, reconstruir a integridade da boa nova libertadora de Jesus e do seu mistério pascal.

Sábado Santo: dia do silêncio de Deus e dos homens
O Sábado santo é o dia do grande silêncio. Só a Liturgia das Horas acompanha as etapas do dia. Um dia vazio ou, ao invés, um dia de silêncio contemplativo e fecundo, de espera e de esperança, suscitada pela gestação silenciosa da nova criatura no seio da terra e do coração de Deus? “Que está acontecendo hoje?”, se pergunta o autor de uma antiga homilia sobre o sábado santo (séc. IV). “Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos.” (LH, IV, Sábado santo). O Sábado santo testemunha que Deus continua descendo até as entranhas mais obscuras e ambíguas da alma humana, e nas experiências mais marginalizadas, para recuperá-las e trazê-las à vida. Nada e ninguém é abandonado a si mesmo. Aprender a conviver com a “fraqueza” de Deus, com os silêncios de Deus, com os tempos e os diferentes ritmos de Deus, dos seus projetos, com a pedagogia com a qual ele nos dirige e acompanha com amor fiel embora às vezes incompreensível. Eis a lição do Sábado santo. O Sábado santo não é somente o segundo dia do tríduo: é uma dimensão constitutiva da  identidade cristã e de  todo caminho espiritual cristão. Para perceber e acolher a voz silenciosa que sobe da escuridão, é preciso o silêncio interior que abre à escuta e à uma visão mais aguda.

A grande Vigília da noite  e o domingo de Páscoa 
A grande vigília da noite, junto com o dia de Páscoa, constitui o cume do Tríduo sagrado e do caminho quaresmal. São a noite e o dia destinados por sua natureza a iniciar/introduzir os catecúmenos à fundamental relação pessoal com Cristo através dos sacramentos da iniciação cristã. Com as palavras dos profetas Oséias e Isaías (4a Leitura: Is 54,5-14), a liturgia chama esta vigília de “noite das núpcias de Cristo com a Igreja. Ele a torna mãe fecunda, capaz de gerar novos filhos ao Senhor nas águas maternais do batismo. Santo Ambrósio, nas suas catequeses mistagógicas sobre a iniciação cristã, descreve o encontro pessoal do neo-batizado com Cristo na eucaristia como o encontro apaixonado do amado com a amada do Cântico dos Cânticos! [1] É a noite-dia em que também os “fieis” são chamados a renovar seu compromisso batismal (renovação das promessas batismais), pois o batismo é a fonte que alimenta toda experiência espiritual cristã. A vigília se articula em quatro etapas que bem representam o caminho da iniciação e o do progresso espiritual ao longo da vida: liturgia da luz – liturgia da palavra – liturgia batismal – liturgia eucarística. Quatro linguagens rituais para celebrar o único mistério de Cristo morto e ressuscitado, Elas destacam a passagem do batizado de uma existência nas trevas e na morte do pecado para uma vida nova em Cristo, para viver como ressuscitados.
- Liturgia da luz: Uma luz nasce de repente no coração da noite. Do círio pascal, símbolo de Cristo, recebem luz as velas de toda a assembléia que se põe a caminho. A reação frente a tamanho dom de Deus é o grito de alegria do “Exultet”, quase contraponto ao grito sofrido da Sexta-feira santa e ao silêncio adorante do sábado.
- Liturgia da Palavra: As sete leituras do AT e as duas do NT constituem a profunda contemplação das etapas de toda a história da salvação, desde a criação do mundo, através da história de Israel no AT, até à ressurreição de Jesus, e à proclamação que os batizados participam por graça à ela, iniciando o caminho do novo povo de Deus (Rm 6,3-11). A vida espiritual do cristão é continuidade e realização da mesma e única história da salvação, na espera do seu cumprimento com a vinda gloriosa de Cristo.
- Liturgia batismal: Constitui a passagem forte da vigília pascal. É a meta da longa preparação quaresmal para os catecúmenos, assim como para os já batizados.
O processo de preparação – como vimos, ao seguir a estrutura dos domingos da quaresma – destacou os variados horizontes e exigências para entrar na experiência sacramental e de relação pessoal com Cristo, e fazer desta relação a fonte e o critério de uma nova existência.
A renovação das promessas do batismo por parte de toda a assembléia abre estes horizontes, destaca estas exigências, confirma esta graça.
- Liturgia eucarística. Partilhar o corpo e o sangue do Senhor à mesa do altar é o dom supremo que os neo-batizados e os renovados na graça do batismo vão receber do próprio Cristo ressuscitado. Eles são introduzidos no mesmo dinamismo do Senhor. “Quando vai receber o corpo de Cristo nas mãos – sublinha Santo Agostinho aos recém-batizados – e ouvis o sacerdote dizer “É o corpo de Cristo”, tu respondes “Amém”. Tu recebes o corpo de Cristo, que sois vós”.
A nova existência alimentada pelo Espírito do Ressuscitado é vivificada por um novo dinamismo que produz os frutos do Espírito: alegria, paz, confiança filial, solidariedade fraterna. O canto do Aleluia constitui o emblema da Páscoa e da vida nova em Cristo. Brota da alegria da fé, se irradia através da vida renovada, antecipa a plenitude da esperança: “A Paixão do Senhor mostra-nos as dificuldades da vida presente, em que é preciso trabalhar, sofrer e por fim morrer. A ressurreição e glorificação do Senhor nos revelam a vida que um dia nos será dada... É isto o que todos nós exprimimos mutuamente quando cantamos: Aleluia! Louvai o Senhor!... Mas louvai com todas as vossas forças, isto é, louvai a Deus não só com a língua e a voz, mas também com a vossa consciência, a vossa vida, as vossas ações. (S. Agostinho, Com. Salmos, 148 1-2; 5a Semana do Tempo Pascal,  Sábado  LH II,  pg 779).     
Ó Deus, por vosso Filho unigênito, vencedor da morte, abristes hoje para nós as portas da eternidade. Concedei que, celebrando a ressurreição do Senhor, renovados pelo vosso Espírito, ressuscitemos na luz da vida nova” (Domingo de Páscoa, Oração do dia).  
Notas:
1. Santo Ambrósio, Os sacramentos  e os mistérios; Introdução e tradução por Dom Paulo Evaristo Arns – Comentários  por  Dom Geraldo Majella Agnelo. Editora Vozes, 1981 

SÃO PAULO, terça-feira, 19 de abril de 2011

terça-feira, 12 de abril de 2011

CNBB lança site Lectionautas Brasil

Foi lançado na sexta-feira, 8, pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em parceria com a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), o site do Projeto Lectionautas Brasil.  Trata-se de um programa para internautas jovens que oferece itinenários e instrumentos para capacitá-los a serem discípulos e missionários mediante a escuta e anúncio da Palavra de Deus com o método da Lectio Divina [Leitura Orante], adaptada à linguagem jovem.  “Queremos que os jovens, que se encontram cada vez mais conectados à internet, se conectem também com a Palavra de Deus através da Leitura Orante que é oferecida a todos os jovens em mais de 20 países; o Projeto Lectionautas, uma espécie de leitura orante para internautas, é um programa servido pelo Centro Bíblico Latino Americano (Cebipal) que quer ser um instrumento de evangelização através da internet, ou seja, fazer com que os jovens que utilizam este meio usem o site para evangelizar”, explicou a assessora da Comissão Bíblico-Catequética da CNBB, Cecília Rover.

“A Leitura Orante quer, através dos seus passos, fazer com que o jovem e qualquer pessoa que pratica o método encontre a verdadeira Palavra Viva que é Jesus. Esse texto quer nos fazer chegar à pessoa de Jesus e possibilitar o encontro e a transformação na vida das pessoas”, completou Cecília sobre o método. No site Lectionautas Brasil o internauta terá acesso a conteúdo bíblico formativo. Todos os domingos haverá material para a Leitura Orante e estará disponível sempre às quartas-feiras; presentes também na página links com notícias do site da CNBB e Liturgia Diária. Destaque para as orientações, arquivos explicativos sobre o Projeto, o Congresso Brasileiro de Animação Bíblico de Pastoral e a exortação do papa Bento XVI que pede aos jovens aprofundamento na Palavra de Deus.

Leitura Orante e Lectio Divina
A Leitura Orante da Bíblia, ou Lectio Divina, é tão antiga quanto o cristianismo. Surgiu no século XIII com o monge Guigo, nos quatro passos preservados até hoje: leitura, oração, meditação e contemplação. A Leitura tem por objetivo ajudar a pessoa a realizar e viver o seu encontro pessoal com Jesus Cristo a partir desses passos. Em 2007, pela primeira vez, um documento oficial do magistério da Igreja Latino Americana reconheceu o método sistematizado da Leitura Orante da Bíblia. De acordo com o Documento de Aparecida, a Lectio Divina é um “novo modo de formar discípulos e missionários de Jesus”. O método ficou muito tempo restrito aos mosteiros e hoje, com o avanço da internet, tem ganhado notoriedade e espaço junto aos jovens.

Fonte: CNBB

João Paulo II terá memória litúrgica em outubro

A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos emitiu ontem, 11, um decreto regulamentando o culto litúrgico reservado ao futuro beato João Paulo II. Após a sua beatificação, em 1º de maio, no Vaticano, João Paulo II terá sua memória celebrada na diocese de Roma e nas dioceses da Polônia no dia 22 de outubro, dia em que inaugurou seu pontificado, em 1978.As autoridades religiosas não concederam o “culto universal”, ou seja, a veneração em todas as igrejas do mundo, como ocorre com os santos, apesar da solicitação feita pelo Vicariato, no início do processo de beatificação. Ser proclamado beato é o terceiro passo no caminho da canonização. O primeiro é Servo de Deus, o segundo venerável, o terceiro beato e o quarto, santo. Para ser santo é necessário comprovar que interveio em dois milagres. Falecido em 2 de abril de 2005, João Paulo II será beatificado no prazo recorde de seis anos e um mês.

Fonte: CNBB

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Exercícios quaresmais

 
Os exercícios quaresmais, na vivência litúrgica que a Igreja Católica oferece como preparação para a celebração da Páscoa do Senhor Jesus, o Salvador do mundo, são riquezas de um caminho que constituem uma das páginas insubstituíveis na qualificação da vida de todos. Esses exercícios trazem consequências e resultados mais fecundos na participação de cada pessoa na grande teia da cidadania, que cada um, em conjunto com outros, ajuda a tecer e manter. Exercícios que conquistam a saúde do corpo são indispensáveis, essa demanda gera na atualidade uma verdadeira indústria de serviços, que traz benefícios variados para além da questão estética, muitas vezes buscada de maneira superficial na velocidade efêmera da vida que passa. É preciso também o suporte e a articulação com o que tece e sustenta a interioridade, o que está na mente e no coração. Com o que eiva a constituição cerebral de cada um com entendimentos, sentimentos e vivências. Propriedades de alimentar as transmissões que ali se operam para garantir, além do bem estar, uma postura qualificada e madura diante da vida e na condução cotidiana. 
 
Saúde não é apenas condição física. A interioridade é coluna mestra que a sustenta, uma coordenação articulada de energias e a constituição de vínculos e ligações que abrem a vida para a transcendência, para o infinito do amor de Deus. E, também, para cada outro, dando sentido ao viver, ao serviço que se presta e ao gosto de amar e comprometer-se com a vida de todos. Os exercícios quaresmais, na bimilenar tradição espiritual e litúrgica da Igreja Católica, à medida que são seguidos e vivenciados, propiciam conquistas que não se alcançam por outros caminhos e metodologias. Especial menção merece a busca da própria identidade e dos valores pessoais, pois ela alimenta a consistência indispensável enquanto constituição da fonte que sustenta o viver a cada dia, não permite perder o rumo da vida. Trata-se de uma qualificação da existência que faz das pessoas um instrumento da paz, em razão da profunda ligação e intimidade cultivadas com o Senhor Único da vida. Nada é mais precioso!

No Sermão da Montanha, o evangelista Mateus (capítulos 5 a 7) relata regras de ouro que Jesus ensina aos seus discípulos, em vista de uma vida qualificada e vivida com gosto e proveito. O Mestre inclui na dinâmica dos exercícios que qualificam o discípulo a indicação da prática da esmola, da oração e do jejum. Na verdade, Jesus não propõe a prática de simples gestos descomprometidos. A esmola, mais do que a disponibilização do supérfluo, como muitas vezes se entende e pratica, aponta como significação o compromisso com a vida de todos - especialmente a dos pobres e dos miseráveis. Esse comprometimento implica uma compreensão da realidade que gera posturas cidadãs para traduzi-las em empenhos com causas e projetos. Define prioridades e dá, a quem se dispõe, a condição de porta-voz para fazer valer o direito de todos e a cabível opção preferencial pelos que precisam mais. A esmola é um gesto de partilha localizado na atitude de quem compreende seu compromisso de defender a vida, de forma incondicional, em todas as suas etapas, e trabalhar sem descanso para promovê-la. Suscita uma visão social e política da mais alta qualidade por colocar à luz da presença de Deus, o outro, particularmente o pobre, que não tem o necessário, é enfermo, excluído ou sofredor, como centro de preocupações e de reverências.  Jesus inclui, ainda, na dinâmica desse exercício de qualificação da existência e do dom da vida, o jejum. Certamente parece obsoleta essa atitude, num tempo de tanta fartura, de desperdícios, contracenando com um mundo de pelo menos um bilhão de famintos. Jejuar é um exercício de correção de costumes e hábitos que nos levam a tratar o alimento com respeito, nos motiva a repartir nosso bocado com quem tem fome, superando a gula que despersonaliza e fomenta irracionalidades. É ainda um exercício que dá a temperança indispensável para não cairmos nos exageros da corrupção, dos apegos nascidos da voracidade que põem o indivíduo diante das coisas e dos bens.
 
Na riqueza das considerações possíveis das muitas vivências dos exercícios quaresmais há um verdadeiro tratado de ciência do bem viver e de qualificação da existência, que repercute na vida: a importante prática da oração. Essa indicação sábia de mestre a discípulos já foi pensada como hábito piegas. Aberturas e interesses por milenares práticas meditativas são sinais de que a cultura ocidental precisa e pode revisitar os tesouros de sua herança cristã, de modo a entendê-la, como no dizer de um autor do século quarto: "a oração é a luz da alma". E adorná-la com modéstia e a luz resplandecente da justiça, temperando a conduta do orante com o sal do amor de Deus.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

Inocula veneno dentro da Igreja

 
Ao discutir a frase da Carta de São Paulo aos Romanos, que "a caridade não seja fingida", o frade capuchinho considerou que no campo da caridade na Igreja há um aspecto que precisa de conversão: o ato de ficar julgando uns aos outros. O fato de julgar não é em si algo mau, esclareceu, o que é verdadeiramente mau é "o veneno do nosso julgar": "o rancor, a condenação".

Perante o Papa, cardeais, bispos, sacerdotes e religiosos presentes na capela Redemptoris Mater do Palácio Apostólico, Cantalamessa explicou que, "em si, julgar é uma ação neutra"; "o juízo pode terminar tanto em condenação quanto em absolvição e justificação". "São os juízos negativos os que a palavra de Deus reprime e elimina, aqueles que condenam o pecador junto com o pecado, aqueles que olham mais para a punição do que para a correção do irmão", disse.

"Para estimar o irmão, é preciso não estimar demais a si mesmo - prosseguiu -; é necessário ‘não ter uma visão alta demais de si próprio'". "Quem tem uma ideia muito alta de si mesmo é como um homem que, à noite, tem diante dos olhos uma fonte de luz intensa: não consegue ver nada além dela; não consegue ver a luz dos irmãos, seus dotes e seus valores." "‘Minimizar' deve se tornar o nosso verbo preferido nas relações com os outros: minimizar os nossos destaques e minimizar os defeitos alheios. Não minimizar os nossos defeitos e os destaques alheios, como somos tantas vezes levados a fazer; é diametralmente o oposto!"

A fofoca

A fofoca mudou de nome, chama-se ‘gossip', afirmou Cantalamessa. "Parece ter virado coisa inocente, mas é uma das que mais poluem a vida em grupo". "Não basta não falar mal dos outros; precisamos também impedir que os outros o façam em nossa presença; fazê-los notar, mesmo que silenciosamente, que não estamos de acordo." "Em muitos locais públicos está escrito ‘Aqui não se fuma'. Antigamente havia até alguns avisos de ‘Aqui não se blasfema'. Não faria mal acrescentar, em alguns casos, ‘Aqui não se fofoca'".

CIDADE DO VATICANO, domingo, 10 de abril de 2011

sexta-feira, 8 de abril de 2011

CNE adia votação sobre reforma do currículo do ensino médio

O Conselho Nacional de Educação (CNE) adiou a votação, marcada para o dia 6 de abril, do parecer que estabelecerá as novas diretrizes curriculares para o ensino médio. Os conselheiros avaliaram que será necessário mais tempo para aprofundar o debate sobre o assunto. Em reunião fechada do conselho, realizada hoje, não houve consenso sobre alguns temas e outros pontos deverão ser reconsiderados.
Ainda não há nova data para a votação das novas diretrizes que deverão apontar para um currículo mais flexível e mais autonomia para as escolas do ensino médio. O relatório do conselheiro José Fernandes de Lima sugere que as escolas possam organizar a aprendizagem a partir de áreas mais amplas, em vez das tradicionais disciplinas como português, história, física e matemática. O relator também quer que as escolas ofereçam atividades complementares desde que se cumpra uma carga horária mínima de 2,4 mil horas.
O ensino médio é a etapa da educação básica com os piores índices de rendimento. Atualmente, cerca de 8,3 milhões de alunos estão matriculados nesta etapa, com taxa de reprovação de 13,1% e de abandono, de 14,3%. O relator defende que a atualização das diretrizes curriculares é necessária para adequar a escola aos novos desafios que são colocados à juventude, entre eles mudanças no mundo do trabalho e a aceleração da produção de conhecimentos.

“Vários movimentos sinalizam no sentido de que a escola precisa ser repensada para responder aos desafios colocados pelos jovens”, diz o documento. As novas diretrizes abrem espaço, por exemplo, para que a duração do ensino médio seja ampliada para mais de três anos caso seja interesse das escolas oferecer conhecimentos e atividades além das consideradas obrigatórias. No caso do ensino médio noturno, o relatório recomenda que essa duração deve ser ampliada já que a carga horária oferecida a esses estudantes diariamente é inferior à oferecida aos alunos do turno diurno.

Amanda Cieglinski
Repórter da Agência Brasil

Livros didáticos de filosofia voltam à rede pública em 2012

Depois de 47 anos fora dos currículos das escolas de educação básica no País, a filosofia vai voltar, na prática, para a grade horária dos alunos de ensino médio. No ano que vem, as escolas da rede pública receberão pela primeira vez, desde a ditadura, livros didáticos da disciplina para orientar o trabalho dos professores. A disciplina foi banida das escolas na época da ditadura militar. Em 2008, uma lei trouxe de volta a filosofia e a sociologia como disciplinas obrigatórias para os estudantes do ensino médio. A professora Maria Lúcia Arruda Aranha ensinava filosofia em 1971 quando a matéria foi extinta pelo governo militar. Hoje, é uma das autoras dos livros que foram selecionados para serem distribuídos aos alunos da rede pública pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). "A filosofia nas escolas desapareceu na década de 70 e reapareceu como disciplina optativa em 1982. Mas, nesse meio tempo, eu continuava dando aula em escola particular. A gente ensinava, só que o nome da matéria não podia constar como filosofia", lembra. 

Ela avalia que o País demorou demais para incluir as duas disciplinas novamente entre as obrigatórias e ainda falta "muito chão" para que elas sejam ministradas da forma adequada. Ainda faltam professores formados na área já que, por muito tempo, não havia mercado de trabalho para os licenciados e a procura pelo curso era baixa. Em 2009, 8.264 universitários estavam matriculados em cursos superiores de filosofia - 78 vezes menos do que o total de alunos de direito. Muitas vezes são profissionais formados em outras graduações como história ou geografia que assumem a tarefa. Os livros didáticos devem ajudar a orientar os docentes no ensino da filosofia. "O livro é muito importante porque dá uma ordenação do conteúdo e propõe como o professor pode trabalhar os principais conceitos, como o que é filosofia e a história da filosofia", diz Maria Lúcia. "Mesmo o aluno formado na área, às vezes, não está acostumado a dar aula para o ensino médio, não tem dimensão de como chegar ao aluno que nunca viu filosofia na vida", explica.

A história da filosofia, as ideias dos principais pensadores como Platão, Kant e Descartes, servem de base para ensinar aos jovens conceitos básicos como ética, lógica e política. Mas Maria Lúcia ressalta que é muito importante conectar o conteúdo com a realidade do aluno para que ele "aprenda a filosofar". "O professor deve apresentar o texto dos filósofos fazendo conexões com a realidade daquele tempo em que o autor vive, mas também estimular o que se pensa sobre aquele assunto hoje. Isso desenvolve a capacidade de conceituação e a competência de argumentar de maneira crítica. Ele aprende a debater, mas também a ouvir", compara.

Agência Brasil

terça-feira, 5 de abril de 2011

Música sacra: linguagem forte e imediata para jovens

A música sacra tem "uma linguagem universal, mas especialmente forte em uma sociedade de consumo e de bem-estar. É um componente essencial da liturgia que estamos redescobrindo e que chega em particular aos jovens, que têm uma linguagem mais imediata." Assim falou Dom Liberio Andreatta, na apresentação realizada no Palácio Maffei, do festival "‘In signo Domini' - Musica sacra nas basílicas romanas", promovido pela Academia Musical Europeia.  O evento terá lugar nas últimas três quartas-feiras de abril, dias 13, 20 e 27, acompanhando o espectador no caminho da espiritualidade que é a Páscoa, e se insere no contexto das manifestações pela beatificação de João Paulo II, sendo Dom Andreatta o comissário extraordinário.
Dom Andreatta disse que "o homem chegou a uma situação de desilusão, vazio, solidão, na qual se encontra terrivelmente desapontado. Ele perdeu todos os pontos de referência e, nesta situação, acho que a música sacra é o instrumento e a linguagem que o leva a encontrar-se novamente consigo mesmo. Essa nostalgia que todo homem tem da sua origem e do seu destino é a nostalgia de Deus". O prelado sublinhou que "a música é um componente essencial da liturgia. Basta pensar em Davi com a harpa. No Antigo Testamento, diante do ‘Santo dos Santos' estava a música sacra. Era a expressão profunda de uma linguagem que não era tão humana quanto divina". Ele também lamentou que hoje, nas igrejas onde se tirou a música sacra, também foi retirado algo da linguagem da divina liturgia, afirmando que existem interpretações errôneas do Concílio Vaticano II, que deram à celebração litúrgica um aspecto de assembleia, perdendo o sentido de que Cristo é o celebrante. "Uma assembleia sem Cristo não tem sentido", disse ele.

Ele lamentou que tantas vezes se tenha dado espaço a "cânticos com uma música feita com violões, improvisadas, que ​​foram mais o resultado da modernidade do tempo que da tradição profunda da Igreja, que, após milênios, tem um patrimônio que é desperdiçado dessa maneira". "Mesmo nas procissões - recordou - foram removidos os sinais que externamente já não nos diziam nada, porque perdemos interiormente o sentido e o significado dessas linguagens." E concluiu lembrando que, "graças a Deus, com Bento XVI, estamos redescobrindo este caminho que, de alguma maneira, havíamos perdido"; e espera que, "de alguma forma, os jovens sacerdotes e as gerações futuras possam reconstruir este patrimônio único", convidando também os párocos a "redescobrir a música sacra dos nossos antigos, especialmente o gregoriano". Este concerto nasce da parceria com a Academia Musical Europeia, que organiza uma competição internacional anual sobre música sacra, e a Agência Artística ‘A Voce Solal'. O programa com os horários e os dias dos eventos, aos quais estão especialmente convidados os jovens, está em www.accademiamusicaleeuropea.org.

ROMA, terça-feira, 5 de abril de 2011

Em Roma, tudo pronto para beatificação de João Paulo II

Três celebrações
No sábado, 30 de maio, acontecerá a vigília de oração no ‘Circus Maximus', que terá um tom universal, mas também muito romano, e da qual todos podem participar", explicou o cardeal. Entre outros eventos, nesta vigília - explicou sua eminência - haverá depoimentos como o do cardeal Stanislaw Dziwisz, secretário particular do Papa durante 27 anos, do ex-porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro Valls, e da freira Marie Simon Pierre, que obteve a cura milagrosa do Mal de Parkinson, usada na causa de beatificação de João Paulo II. "Na parte final - indicou o cardeal Vallini -, teremos a alegria de contar com a presença do Santo Padre, que, conectado do Palácio Apostólico, rezará a oração final e dará a bênção apostólica a todos os participantes." Dom Frisina acrescentou que "nessa noite estarão abertas 8 igrejas do centro histórico, no trajeto que vai do ‘Circus Maximus' até São Pedro, em uma noite branca das igrejas".

Missa de beatificação
A liturgia será realizada no domingo. A comunhão será distribuída na Praça de São Pedro por 500 sacerdotes, e outros 300 o farão na Via da Conciliação. E nas igrejas conectadas com telões para acompanhar a Missa, será possível comungar nesse momento. Na Via da Conciliação e em áreas adjacentes, serão instalados 14 telões. Após a Missa, a Basílica de São Pedro será aberta; no altar da confissão estará, no caixão fechado, o corpo de João Paulo II, que será venerado em primeiro lugar pelo Papa e pelos cardeais. Em seguida, será aberta ao fluxo de peregrinos e fiéis, e permanecerá aberta enquanto houver pessoas.

Financiamento
O cardeal Vallini quis lembrar que o erário público não deve pagar o evento. "O financiamento será feito com a ajuda das instituições, bancos, etc., e com um esforço da nossa parte." O prelado recordou que, no site do evento, as informações estão em cinco idiomas e reafirmou que "o ‘JPII pass' não é um bilhete para as celebrações. Por outro lado, envolve uma série de serviços que incluem acesso gratuito ao transporte público, passeios, lugares ‘Pack lunch', outras informações e ‘gadgets'". "Ainda há espaço disponível em Roma, inclusive nas instituições religiosas. Além disso, a região do Lácio disponibilizou um acampamento montado na área de Fiumicino, para os jovens", disse.

Onde informar-se
Nos pedágios de entrada de Roma, haverá grupos de voluntários que darão as indicações. E no site oficial (http://www.jpiibeatus.org/) estão todas as informações; lá se pode comprar o ‘Special JPII Pass', que permite, entre outras coisas, o transporte gratuito. O Pe. Lombardi acrescentou que "o canal 105 da ‘Rádio Vaticano' vai fornecer informações a cada 15 minutos, em diferentes línguas". Outro desafio do evento - disse o Pe. Wanted Inser - é contar aos adolescentes quem foi João Paulo II, e os próprios jovens o farão.  Para isso, foi apresentada a iniciativa "Sentinelas digitais", que se refere ao uso das redes sociais. "Nós quisemos - acrescentou - aceitar este desafio emocionante e lançar um novo projeto, justamente durante a beatificação de João Paulo II, usando o conhecido portal ‘Pope2You', do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais, que, por seu caráter, é destinado aos jovens. Haverá também exposições e o Museu Vaticano estará aberto até meia-noite.

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 5 de abril de 2011

quinta-feira, 31 de março de 2011

Catequese do Papa: Santo Afonso Maria de Ligório

Queridos irmãos e irmãs:

Hoje eu gostaria de vos apresentar a figura de um santo Doutor da Igreja, a quem devemos muito, pois foi um eminente teólogo e mestre de vida espiritual para todos, especialmente para as pessoas simples. Ele é o autor da letra e da melodia de uma das canções natalinas mais famosas da Itália, ‘Tu scendi dalle stelle', além de muitas outras coisas. Pertencente a uma família napolitana rica e nobre, Afonso Maria de Ligório nasceu em 1696. Dotado de grandes qualidades intelectuais, com apenas 16 anos se graduou em direito civil e canônico. Era o advogado mais brilhante do fórum de Nápoles: durante oito anos, ganhou todas as causas que defendeu. No entanto, sua alma estava sedenta de Deus e desejosa da perfeição; assim, o Senhor fez-lhe compreender que era outra a vocação à qual o chamava. De fato, em 1723, indignado pela corrupção e injustiça que assolou o ambiente à sua volta, ele abandonou a sua profissão - com ela, a riqueza e sucesso - e decidiu se tornar sacerdote, apesar da oposição paterna. Teve excelentes professores, que o introduziram no estudo da Sagrada Escritura, da História da Igreja e da mística. Adquiriu uma vasta cultura teológica, que começou a dar frutos quando, alguns anos mais tarde, ele começou seu trabalho de escritor. Foi ordenado sacerdote em 1726 e entrou, para o exercício do seu ministério, na Congregação diocesana das Missões Apostólicas. Afonso iniciou a evangelização e catequese entre os estratos inferiores da sociedade napolitana, a quem gostava de pregar e instruía nas verdades fundamentais da fé. Muitas dessas pessoas, pobres e modestas, às quais se dirigiu, frequentemente se dedicavam aos vícios e a operações criminosas. Pacientemente, ensinava-as a orar, incentivando-as a melhorar a sua maneira de viver. Afonso obteve excelentes resultados: no bairro mais miserável da cidade, multiplicavam-se grupos de pessoas que, no final da tarde, se reuniam em casas particulares e nas oficinas, para rezar e meditar sobre a Palavra de Deus, sob a orientação de um catequista formado por Afonso e por outros sacerdotes, que visitavam regularmente esses grupos de fiéis. Quando, a pedido do arcebispo de Nápoles, estas reuniões começaram a ser realizadas nas capelas da cidade, receberam o nome de "capelas noturnas". Isso foi uma verdadeira e apropriada fonte de educação moral, de reparação social, de ajuda mútua entre os pobres: ele pôs termo aos roubos, duelos, prostituição, até quase desaparecerem.

Ainda que o contexto social e religioso da época de Santo Afonso tenha sido muito diferente do nosso, as "capelas noturnas" são um modelo de atividade missionária e também podem inspirar-nos hoje para uma "nova evangelização", em especial dos mais pobres, e para construir uma convivência humana mais justa e fraterna. Aos sacerdotes foi confiado o dever de ministério espiritual, enquanto os leigos bem formados podem ser eficazes animadores cristãos, verdadeiro fermento evangélico dentro da sociedade. Depois de ter pensando em ir evangelizar os povos pagãos, Afonso, aos 35 anos, entrou em contato com agricultores e pastores das regiões interiores do Reino de Nápoles e, estupefato pelo seu desconhecimento da religião e o estado de abandono em que se encontravam, decidiu deixar a capital e dedicar-se a essas pessoas, que eram pobres espiritual e materialmente. Em 1732, fundou a Congregação Religiosa do Santíssimo Redentor, que ficou sob a tutela de Dom Tommaso Falcoia e da qual se tornou superior. Estes religiosos, dirigidos por Afonso, foram autênticos missionários itinerantes, chegaram até as aldeias mais remotas, exortando à conversão e à perseverança na vida cristã, sobretudo através da oração. Ainda hoje, os Redentoristas, espalhados por muitos países do mundo, com novas formas de apostolado, continuam esta missão de evangelização. Penso neles com o reconhecimento, exortando-os a ser sempre fiéis ao exemplo de seu Santo Fundador.

Apreciado pela sua bondade e seu zelo pastoral, em 1762 Afonso foi nomeado bispo de ‘Sant'Agata dei Goti', ministério que deixou em 1775 por causa das doenças que sofria, por concessão do Papa Pio VI. O próprio Pontífice, em 1787, ao receber a notícia de sua morte, que ocorreu com muito sofrimento, exclamou: "Era um santo!". E ele estava certo: Afonso foi canonizado em 1839 e, em 1871, foi declarado Doutor da Igreja. Este título lhe foi concedido por muitas razões. Primeiro, ele propôs um rico ensinamento de teologia moral, que expressa adequadamente a doutrina católica, a ponto de ser proclamado pelo Papa Pio XII como "padroeiro de todos os confessores e moralistas". Em sua época, difundiu-se uma interpretação muito rígida da vida moral, talvez por causa da mentalidade jansenista, que, ao invés de alimentar a confiança e a esperança na misericórdia de Deus, fomentava o medo e apresentava um rosto de Deus severo e rígido, muito longe do revelado por Jesus. Santo Afonso, especialmente em sua principal obra, intitulada "Teologia Moral", propõe uma síntese equilibrada e convincente entre as exigências da lei de Deus, gravada em nossos corações, revelada plenamente por Cristo e interpretada com autoridade pela Igreja, e os dinamismos da consciência e da liberdade do homem, que, na adesão à verdade e ao bem, permitem a maturação e realização pessoal. Aos pastores de almas e confessores, Afonso recomendava que fossem fiéis à doutrina moral católica, assumindo, ao mesmo tempo, uma atitude caritativa, compreensiva, doce, para que os penitentes se sentissem acompanhados, apoiados e incentivados em sua jornada de fé e de vida cristã. Santo Afonso não se cansava de dizer que os padres são um sinal visível da infinita misericórdia de Deus, que perdoa e ilumina a mente e o coração do pecador, para que se converta e mude de vida. Na nossa época, na qual são claros os sinais de perda da consciência moral e - deve ser admitido - certa falta de apreço pelo Sacramento da Confissão, o ensinamento de Santo Afonso é ainda muito atual. Junto às obras de teologia, Santo Afonso compôs muitos outros escritos, destinados à formação religiosa do povo. Seu estilo é simples e agradável. Lidas e traduzidas em várias línguas, as obras de Santo Afonso contribuíram para moldar a espiritualidade popular nos últimos dois séculos. Alguns desses textos oferecem grandes benefícios, ainda hoje, tais como "Máximas eternas", "As glórias de Maria", "A prática do amor a Jesus Cristo", obra - esta última - que representa a síntese do seu pensamento e sua obra-prima. Insiste muito na necessidade da oração, que permite abrir-se à graça divina para cumprir cotidianamente a vontade de Deus e obter a própria santificação. Com relação à oração, escreve: "Deus não nega a ninguém a graça da oração, com a qual se obtém a ajuda para vencer toda concupiscência e toda tentação. E digo, replico e replicarei sempre, durante toda a minha vida, que toda a nossa salvação está em rezar". Daí seu famoso axioma: "Quem reza se salva", de "Do Grande Meio da Oração e opúsculos afins" (Obras Ascéticas II, Roma, 1962, p. 171). Vem à minha mente, a propósito disso, a exortação do meu predecessor, o Venerável Servo de Deus João Paulo II: "As nossas comunidades cristãs devem tornar-se autênticas ‘escolas de oração' (...). É preciso, portanto, que a educação na oração de alguma forma se torne um ponto determinante de toda a programação pastoral" (Carta Apostólica ‘Novo Millennio Ineunte', 33 e 34).

Entre as formas de oração fortemente recomendadas por Santo Afonso, destaca-se a visita ao Santíssimo Sacramento ou, como dizemos hoje, a adoração, curta ou longa, pessoal ou comunitária, diante da Eucaristia. "Certamente - escreve Afonso -, entre todas as devoções, esta de adorar Jesus sacramentado é precisamente, depois dos sacramentos, a mais querida por Deus e a mais útil para nós. (...) Oh! Que belo é estar na frente de um altar com fé (...), apresentando nossas necessidades, como faz um amigo a outro, em quem confia totalmente!" ("Visitas ao Santíssimo Sacramento, a Nossa Senhora e a São José para cada dia do mês". Introdução). A espiritualidade de Afonso é, de fato, eminentemente cristológica, centrada em Cristo e em seu Evangelho. A meditação sobre o mistério da Encarnação e da Paixão do Senhor muitas vezes é o tema de sua pregação. Nestes eventos, a Redenção é oferecida a todos os homens "copiosamente". E justamente porque é cristológica, a piedade afonsiana é também eminentemente mariana. Muito devoto a Maria, Afonso ilustra o seu papel na história da salvação: sócia da Redenção e mediadora da graça, mãe, advogada e rainha. Além disso, Santo Afonso diz que a devoção a Maria nos confortará no momento da nossa morte. Ele acreditava que meditar sobre o nosso destino eterno, sobre o nosso chamado a participar para sempre da bem-aventurança de Deus, assim como a possibilidade trágica da condenação, ajuda a viver com serenidade e compromisso, e a enfrentar a realidade da morte mantendo sempre a confiança na bondade de Deus. Santo Afonso Maria de Ligório é um exemplo de pastor zeloso, que conquistou as almas pregando o Evangelho e administrando os sacramentos, combinados com uma maneira de fazer baseada em uma bondade humilde e suave, que nascia de uma relação intensa com Deus, que é a Bondade infinita. Ele teve uma visão realista e otimista dos recursos do bem que o Senhor dá a cada homem e deu importância aos afetos e aos sentimentos do coração, além a mente, para poder amar a Deus e ao próximo.

Em conclusão, eu gostaria de recordar que o nosso santo, à semelhança de São Francisco de Sales, de que falei há algumas semanas, insiste em que a santidade é acessível a todos os cristãos: "O religioso por religioso, o leigo por leigo, o sacerdote por sacerdote, o casado por casado, o comerciante por comerciante, o soldado por soldado, e assim falando em todos os estados" ("A prática do amor a Jesus Cristo". Obras Ascéticas I, Roma, 1933, p. 79). Agradeçamos ao Senhor que, na sua providência, suscita santos e doutores em diferentes épocas e lugares, que falam a mesma linguagem para nos convidar-nos a crescer na fé e a viver com amor e alegria o nosso ser cristãos nas ações simples de todos os dias, para caminhar na via da santidade, no caminho rumo a Deus e à verdadeira alegria. Obrigado.

[No final da audiência, o Papa cumprimentou os peregrinos em vários idiomas. Em português, disse:]

Queridos irmãos e irmãs:

Corria o ano de 1732, quando Santo Afonso Maria de Ligório fundou a Congregação do Santíssimo Redentor. Autênticos missionários itinerantes, os padres redentoristas foram até às aldeias mais distantes, exortando à conversão e à perseverança na vida cristã, sobretudo por meio da oração. Assim aprenderam do seu Fundador, o qual lhes recomendava que fossem fiéis à doutrina moral católica, mas assumindo uma atitude cheia de caridade e compreensão com os pecadores. Os sacerdotes - ensinava ele - são um sinal visível da misericórdia infinita de Deus, que perdoa e ilumina a mente e o coração do pecador, para que se converta e mude de vida. Este ensinamento de Santo Afonso é de grande actualidade neste nosso tempo, em que há claros sinais de perda da consciência moral e - com preocupação, o reconhecemos - de falta de estima pelo sacramento da Reconciliação. Amados peregrinos de língua portuguesa, queridos fiéis da paróquia de Santa Maria do Barreiro, na diocese de Setúbal: a minha saudação amiga para todos vós, com votos de um frutuoso empenho na caminhada quaresmal que estais fazendo. Que nada vos impeça de viver e crescer na amizade de Deus, e testemunhar a todos a sua bondade e misericórdia! Sobre vós e vossas famílias, desça a minha bênção apostólica.
[Tradução: Aline Banchieri.
© Libreria Editrice Vaticana]

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 30 de março de 2011.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Nota da CNBB pelo falecimento do ex-vice-presidente da República .

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB expressa seu profundo pesar pela morte do ex-vice-presidente da República, José Alencar Gomes da Silva, ocorrida na tarde desta terça-feira, 29 de março. Após um longo tempo de luta contra o câncer, José de Alencar parte desta vida deixando para todos os brasileiros o testemunho de amor à pátria e à vida. Em sua vida pública e militância política, José Alencar será lembrado, especialmente, por sua coerência, coragem e discrição. Mas, sem dúvida, ele será lembrado muito mais pela bravura com que enfrentou a doença que insistia em levá-lo antes do tempo. Na memória de todos ficarão suas palavras quando disse não ter medo da morte e que Deus é que o levaria e não o câncer. Nisso acreditou e assim viveu até o último momento.

Firmados na esperança, que vem de nossa fé na ressurreição de Cristo, pedimos a Deus que o acolha no seu reino.

Brasília, 29 de março de 2011